ANA ADÉLIA JÁCOMO
As obras da Copa do Mundo em Cuiabá e Várzea Grande tem causado muitas dúvidas, no entanto, a que mais causa expectativa é a instalação do novo modal de transportes – veículo leve sobre trilhos (VLT). Além disso, as trincheiras, que consistem no alargamento das duas faixas de pista já existentes e no “mergulho”, que criará duas novas pistas , também causam dúvidas.
O RepórterMT conversou com o assessor técnico de Mobilidade Urbana da Secopa, Rafael Detoni. Ele, que é formado em arquitetura e possui mestrado em engenharia de transporte, explicou pontos básicos sobre a reorganização do tráfego nas duas cidades, como por exemplo: as rotatórias, travessias de pedestres e até mesmo o temor comum de que os espaços vazios embaixo das pontes tornem-se locais propícios ao uso e tráfico de drogas. A implantação do VLT custará ao Estado R$ 1,47 bilhão. Detoni garante que o VLT estará pronto até março de 2014.
Confira os principais trechos da entrevista com Detoni:
RepórterMT- Como serão organizadas as rotatórias nas grandes avenidas e os cruzamentos entre VLT e semáforos?
Rafael Detoni – Não temos cruzamentos do VLT em rotatória. Onde forem mantidas as rotatórias, teremos as trincheiras ou viadutos. Por exemplo, na UFMT, Palmiro Paes de Barros, trevo do Zero Quilômetro e no Cristo Rei, as rotatórias serão mantidas, mas a pista principal, onde passará o VLT, mergulhará por baixo da rotatória, ou passará por cima. Não existirá conflito por isso. Nos cruzamentos em nível, como por exemplo no centro da cidade, existirá sinalização semafórica normal. O VLT obedece as regras de trânsito, haverá travessia. Ao lado da Praça Ipiranga haverá um cruzamento normal, a única coisa diferente é que haverá um trilho embutido no asfalto, mas sem solavanco, sem buraco, quebra mola, rampa, nada disso. O VLT segue as regras do tráfego.
RepórterMT- Após a construção desses elevados, haverá um espaço vazio na parte de baixo, que podem contribuir com o tráfico de drogas e até mesmo servirem como abrigo para moradores de rua. Em São Paulo é comum ver esse cenário. O senhor acredita que Cuiabá corre o mesmo risco?
Rafael Detoni – Existe, por parte da Secopa, um tratamento viário e de paisagismo. Agora, a questão de ocupação e Segurança Pública é relacionada ao município e ao Estado. Estamos buscando solução de engenharia de tráfego, mas vale lembrar que atualmente, em baixo do viaduto da Rodoviária não tem esse cenário. Mesmo estando tão próximo a “cracolândia”, não há moradores de rua naquela rotatória que dá acesso a rodoviária. Já existe uma preocupação do município quanto a isso, é só continuar. Além disso, há os viadutos da Fernando Corrêa e CPA, que também não abrigam ninguém. A prefeitura e o Estado têm atuado. Já houve tentativa de ocupação, mas tiraram.
RepórterMT- Sobre as desapropriações. Quando efetivamente o trabalho vai começar na Prainha?
Rafael Detoni – Já começou, mas não efetivamente a desocupação da área. Mas todo cadastramento e documentação está em andamento. Temos laudos prontos, outros em elaboração. Na Prainha, teremos desapropriação daqueles imóveis entre a Praça Bispo Dom José e Maria Taquara, naquele trecho tem um comércio em frente a avenida que vai sair e mais adiante no Morro da Luz, especificamente os pontos de ônibus no pé do morro e alguns comércios, irão sair também. Haverá uma estação de embarque e desembarque nesses locais. Não sei dizer quando efetivamente irá começar a retirada dos imóveis. A Diefra é a empresa responsável.
RepórterMT- Todos querem ver os trilhos nas ruas, mas quando isso acontecerá de fato?
Rafael Detoni – Inserção de trilho é o mais rápido. O que leva tempo são as escavações. Há uma antecipação de cronograma, as obras só começariam em janeiro, até porque precisava ter o projeto básico executivo e as licenças, mas em 4 meses conseguimos ter a licença de instalação e estamos autorizados a executar toda a obra. Vamos começar antes do prazo. Estará tudo pronto até março de 2014.
RepórterMT- E as travessias? A preocupação é quanto aos locais adequados para que os pedestres possam atravessar as ruas em segurança, já que o metrô irá passar em alta velocidade. Vale lembrar que é comum ver pessoas atravessando fora das faixas nas duas cidades.
Rafael Detoni – Automóveis, pedestres, ônibus e VLT são obrigados a seguir a legislação de trânsito. Todas as estações estarão distantes apenas 600 metros uma da outra. Nesses locais haverá faixa de pedestres semaforizada. Haverá um momento em que os veículos e o VLT vão parar para que haja travessia. Vou citar um exemplo: na Avenida Fernando Corrêa, próximo a Praça dos Motoristas, há um semáforo tipo botoeira, depois só há outro ponto de travessia sinalizada em frente da Galeria Itália, próximo a UFMT, antes disso tem uma passarela apenas. Tem um vazio grande, mas com o VLT haverá uma estação na Praça dos Motoristas, outra em frente a Domani, ao Extra e ao Comper, ou seja, 600 metros de distância apenas. O pedestre passará em segurança. Assim será em todo o trajeto.
RepórterMT- Como será a distribuição dos vagões na parte interna?
Rafael Detoni – São 40 carros [vagões]. Cada um tem capacidade para até 400 passageiros, sendo 77 sentados, 2 portadores de necessidades especiais, oito gestantes e idosos. Todos os salões de passageiros são interligados, pisos rebaixados, sem degraus, ar condicionado, portas niveladas ou seja, 100% de acessibilidade. Haverá duas linhas. A primeira partindo de Várzea Grande pela Avenida da FEB, 15 de Novembro, Prainha e Avenida do CPA. Essa linha terá 13 quilômetros e será a maior. A segunda terá quase a metade da distância e fará o itinerário Coronel Escolástico, Fernando Corrêa e saída para Santo Antônio. Haverá quatro carros reserva.
RepórterMT- Há outra preocupação quanto ao VLT. Na Prainha por exemplo, e em alguns pontos da Fernando Corrêa, há pontos de alagamento quando chove muito. O senhor disse que o trem é alinhado com o solo, sem degraus. Não haverá problemas em época de chuva?
Rafael Detoni – Estamos fazendo uma série de adequações viárias. Tem drenagem em todos os pontos. Esse empreendimento chamado VLT não se trata apenas da instalação e uns trilhos e terminais, mas há uma melhoria de toda a circulação. Retornos que existem vão deixar de existir, trincheiras e semáforos serão instalados... Está no projeto refazer toda rede de drenagem, justamente para acabar com esses pontos de alagamento. Faremos a revitalização de todo passeio público, que são as calçadas. Na Prainha, quase nem tem calçada, mas terá cinco metros de largura em breve. Feb terá três metros, Fernando Corrêa cinco, Avenida do CPA terá sete metros de calçada. Uma calçada de cinco nos dá espaço para devolver a arborização do local.
RepórterMT- Sobre a tarifa e possível integração. Há uma definição sobre os preços?
Rafael Detoni – Segundo cálculos da Ager, há possibilidades de o preço do VLT ser muito semelhante ao praticado atualmente no transporte coletivo, que é de R$ 2,70.
RepórterMT- Sabemos que ainda há obras que não foram iniciadas e o temor é que o trânsito seja praticamente paralisado. Tem algum projeto para evitar o caos?
Rafael Detoni – A cidade não pode parar. De fato ano que vem, lá pelos meses de março e abril, todas as obras estarão em andamento. Obviamente o trânsito vai complicar, mas em compensação há novas rotas e também haverá a entrega das trincheiras da Miguel Sutil. Vai ser mais crítico, sim, mas vamos tomar todas as medidas possíveis. Em compensação estará pronto o Viaduto do Despraiado, a trincheira do Santa Rosa, do Verdão e a Ponte Mário Andreazza. Também tem previsão de entrega da ponte da Estrada da Guarita. Todas para o primeiro semestre do próximo ano.
Wanderley de Souza MT, SP 18/11/2012
E A PONTE SOBRE O RIO CUIABA QUE DEMANDA VARIOS MESES?
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