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Cuiabá, 30 de Outubro de 2024
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12 de Setembro de 2013, 08h:38 - A | A

NACIONAL / LUTA CONTRA O PRECONCEITO

Após contrair HIV do marido, mulher abandona 'dogmas' e auxilia doentes

Antes do diagnóstico, ela obedecia religiosamente o marido e à igreja. Na nova vida, Clara luta por grupo de soropositivos em Aracaju.

DO G1



A vendedora de produtos de beleza Maria Clara, 55 anos, não poderia imaginar que quatro anos depois de descobrir que é soropositiva estaria tão satisfeita com a direção que a sua vida tomou.

Ela estava casada havia mais de 30 anos, tinha uma vida estável, mas não planejava o futuro. “Antes de tudo acontecer eu não tinha uma vida com planos pessoais. Vivia em função dos filhos e do marido”, lembra. Hoje, o que para muitos pode ser uma tragédia, para Clara foi uma mudança que trouxe ‘mais flores do que espinhos’.

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Em fevereiro de 2009, Maria Clara se deparou com uma situação diferente no casamento. O marido corria para hospital com hemorragia e febre. A equipe médica pediu autorização para realizar um exame. O resultado mostrou que o esposo estava com HIV e trouxe também mais uma novidade. De acompanhante, ela passava a ser paciente.

Doze dias depois ele morreu, e ela continuava com as dúvidas e incertezas do que estava acontecendo em sua vida. “Fui ao padre, estava muito angustiada, mas a frase de apoio que ouvi só me enfraqueceu: ‘Iguais a você tem milhares aqui na igreja’. Ela lembra o quanto isso a revoltou, pois já chegou a partilhar com o religioso sobre a possibilidade de usar camisinha durante o casamento.

“Mas a atitude não era aprovada pela igreja e eu obedeci”.

Mesmo com o desamparo, Maria não perdeu a fé. “Foi ela quem me segurou. Ainda fiquei um ano isolada com todos os sintomas da depressão”. Foi então, que Clara procurou o Centro de Infectologia de Aracaju e recebeu todas as orientações de como lidar com o novo destino. Esse encontro foi um divisor de águas em sua vida. “Deixei de ser a garota que casou aos 17 anos, teve quatro filhos e semrpe foi obediente ao marido e à igreja”, garante.

No começo das reuniões com o grupo de apoio, Clara comentou que foi um choque. “Fiquei surpresa com o meu preconceito. Lá tinham pessoas de todas as classes sociais desde os engravatados, até garotas de programa”, detalha.

Inicialmente o contato deixava Maria inquieta. “Todos os meus conceitos e princípios de vida estavam sendo reavaliados”, recorda.

Hoje, além de Maria Clara fazer parte do grupo de adesão ela também vestiu a causa dos soropositivos no estado, se aliando a 238 mulheres que lutam por melhores condições de tratamento da doença. Uma luta, segundo ela, sem barreiras.

“Sou católica, mas informei que em momento algum ele [o padre] falasse da proibição do uso ao preservativo na minha frente, pois iria debater em qualquer lugar, até mesmo na missa”, defende.

O irmão de Maria também é padre. “Sinto que estamos vivendo um momento muito novo. O meu irmão não concorda, mas percebo a dúvida no olhar dele quando trago mais informações sobre o assunto”, observa.

3.200 casos são notificados em SE

Maria Clara faz parte do maior grupo das mulheres infectadas em Sergipe. De acordo com dados do programa Municipal de DST/Aids, a maioria das mulheres infectadas pelo vírus contraiu o HIV de seus maridos ou de parceiros fixos. Atualmente, cerca de 800 mulheres são soropositivas em Sergipe.

Segundo estimativa do Programa Estadual de DST/Aids, nos últimos 25 anos foram notificados mais de 3.200 casos da doença sexualmente transmissível. Cerca de 2.000 pacientes estão em tratamento. Aracaju lidera o ranking de cidades sergipanas com mais casos de Aids, seguida por Nossa Senhora do Socorro, Itabaiana e Estância. Porém, o estado é o último do Nordeste e o 23º do país em ocorrências da doença. “A maioria vive em situação de pobreza. A faixa etária mais atingida é de 20 a 50 anos”, detalhou Almir Santana, coordenador do programa, que reforça que está cada vez mais fácil o acesso ao preservativo, informação e teste rápido.

Transmissão do vírus

O HIV pode ser transmitido pelo sangue, sêmen, secreção vaginal e pelo leite materno. “O uso consistente da camisinha é o meio mais seguro de se prevenir contra o HIV e contra outras Doenças Sexualmente Transmissíveis. Seringas e agulhas não devem ser compartilhadas. Todo cidadão tem direito ao acesso gratuito aos medicamentos antirretrovirais. A boa adesão ao tratamento é condição indispensável para a prevenção e controle da doença, com efeitos positivos diretos na vida do soropositivo”, orienta o médico Almir Santana.

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