Na semana passada, discorri sobre o famoso Plano Cohen e seus reflexos imediatos e ao longo prazo na história do Brasil. Ele foi elaborado, por encomenda, do Presidente da Ação Integralista Brasileira Plínio Salgado, uma temida organização de direita, nos moldes nazistas, ao seu chefe de segurança, o Capitão Olímpio Mourão Filho. Entretanto a sua autoria foi atribuída a Internacional Comunista e tinha como objetivo a desestabilização do País, para implantação de uma ditadura, nos moldes soviéticos.
Este Plano foi parar nas mãos do Ministro da Guerra Gois Monteiro que o utilizou em proveito do Governo e ao ser divulgado atemorizou a população e deu azo a decretação do Estado de Guerra e, posteriormente, a implantação do Estado Novo.
Implantou-se, a partir daí, a caça implacável à oposição, notadamente, aos comunistas que viraram os culpados por tudo que acontecia em matéria de política. Bem como a infame acusação de que os comunistas comem criancinhas. O referido capitão foi absolvido das acusações que lhe pesavam de ter servido a implantação de ditadura, por um Conselho de Justificação do Exército, em 1955.
Posteriormente, ele trabalhou na logística da Força Expedicionária Brasileira e nas telecomunicações do Governo Jucelino Kubistischek. Defendeu a posse de João Goulart em 1961. Nos anos que seguiram conspirou pela sua derrubada. Comandava a 4ª Região Militar, em Juiz de Fora-MG., quando antes da data prevista para o Golpe de 1964, pelos conspiradores, se deslocou até a Guanabara, onde estacionou as suas tropas no Maracanã, quando ante a confusão reinante, deveria ter tomado o Ministério da Guerra e liderado o golpe. Entretanto, foi neutralizado pelos outros conspiradores, restando-lhes a frustação, quando declarou – “Em matéria de política eu sou uma vaca fardada. Se de acordo com minha consciência, estou certo quem quiser que me siga”. Terminou a sua carreira presidindo o Superior Tribunal Militar.
Do Plano Cohen restam duas coisas: - a institucionalização do anticomunismo como parte central da identidade dos militares brasileiros e a sedimentação, nos quadros militares, da ideia de que uma ditadura temporária pode servir como instrumento de progresso - (Wikipédia – Verbete Plano Cohen - Internet). Estas mesmas premissas foram utilizadas para efetivação do Golpe de 1964. Uma delas é utilizada, hoje, à exaustão pelo atual Presidente da República que se achando aliado dos militares quer varrer os comunistas do Brasil, não escondendo a sua reiterada simpatia por regimes de força e seus métodos
Enfim, este é o País dos engodos e dos enganos. Dos golpes sorrateiros para manter uma pretensa ordem e extirpar a oposição e os comunistas. Dos demagogos, caudilhos e encantadores de serpentes que enganam o povo, através de uma vassoura que iria varrer a bandalheira, pois o povo está cansado de viver desta maneira; de um caçador de marajás que levou o País ao fundo do poço; do outro homem mais honesto do País que terminou no xilindró e que foi gloriosamente ressuscitado. De outro que usa o nome de Deus em vão: O Brasil acima de todos e Deus acima de tudo.
Continuamos, como índios que habitavam o continente na época do seu descobrimento, a acreditar no sobrenatural e, portanto, em um Deus que viria nos redimir. Entretanto, tiveram que lidar com o capeta, no México, através de Hernán Cortés e no Peru, por intermédio de Francisco Pizarro. Tudo, neste triste Continente, continua se repetindo indefinidamente, como no universo mágico do Livro Cem Anos de Solidão de Garcia Marques. Até quando?
Renato Gomes Nery é advogado