O escritor Nassim Nicholas Taleb, criou e figura do Cisne Negro. Segundo ele antes do descobrimento da Austrália, as pessoas estavam convencidas de que todos os cisnes eram brancos. Nada autorizava a pensar que houvesse cisne de outra cor. Quando encontraram na Austrália essas aves com penas negras foi um espanto.
Taleb, com seu engenho, passou a usar essa surpresa do encontro com o desconhecido, para cunhar o termo Cisne Negro, assim, com iniciais maiúsculas. Para ele Cisne Negro é qualquer evento inesperado, aleatório e impactante, positivo ou negativo. A característica principal é a imprevisibilidade. Outro detalhe é que após o seu aparecimento, surgem mil teorias para explicá-lo.
A covid-19 é um Cisne Negro. Fora um ou dois casos de epidemias mais ou menos localizadas, como é o caso do ebola na África, nenhuma pessoa viva se lembra do último evento de pandemia como foi a gripe espanhola há mais de 100 anos.
Mesmo quando surgiu a covid-19 em dezembro passado acreditamos que seria como suas primas que tinham baixo potencial de destruição, e para as quais, rapidamente encontramos vacinas eficazes.
Estávamos enganados como ficou provado para a grande maioria logo em seguida, menos para alguns teimosos alienados que a despeito de todas as evidências ficaram menosprezando o potencial danoso da nova doença. Entre eles o mais poderoso homem do mundo, Donald Trump, seguido pelo seu admirador Jair Bolsonaro.
Ambos zombaram desse legítimo Cisne Negro, primeiro negando-lhe o poder destruidor, depois, quando as evidências não puderam ser mais contestadas, passaram a defender remédios milagrosos que a ciência não recomendava como remissor da doença. Foi o caso da cloroquina – obsessão de Trump e Bolsonaro.
O resultado dessa arrogante ignorância foi que os americanos hoje são os campeões de mortalidade pela covid-19 e o Brasil, graças ao estímulo do mandatário maior relaxa o distanciamento ao tempo em que aumentam perigosamente as contaminações.
Enquanto a vacina não chega e não se descobre um remédio com real poder de cura, resta-nos ir cozinhando o vírus em pouco fogo, enquanto se aumenta a estrutura da saúde pública e se obtenha mais respiradores, única forma de salvar vidas. Pra outra coisa não servem máscaras, desinfetantes e distanciamentos a não ser para evitar que cheguemos todos ao mesmo tempo aos hospitais, disputando limitados equipamentos de suporte à vida.
Os ex-ministros da saúde Henrique Mandetta e Nelson Reich caíram porque ficaram ao lado da ciência como única forma de vencer a doença. Com eles fora do governo corremos o risco de prosperarem as ideias do Presidente levando o povo a uma desobediência civil.
Claro que há exageros: Cuiabá que tem cerca de 10% dos leitos de UTI ocupados, não deveria estar em confinamento tão severo quanto São Paulo, onde não há respiradores para todos que precisam. Mas não é desobedecendo às autoridades que resolveremos o problema.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.