JOSÉ ALMIR ADENA
O sal é essencial para a vida. Todo ser vivo necessita de sódio, um dos componentes do cloreto de sódio, nosso sal de cozinha. Cada grama de sal contém 400 mg de sódio e 600 mg de cloreto.
Desde os primórdios da nossa civilização o sal era usado não como tempero, mas para conservar a comida. A caça e a pesca eram conservadas em sal, abundante nos oceanos. Só mais recentemente passou a ser usado como tempero, a ponto de ouvirmos a toda hora:”gosto de comida bem temperada”, quando o paciente quer apenas dizer que gosta de comida muito salgada.
Se o sal é essencial para a vida, por que querer reduzi-lo de nossa dieta?
Por uma razão muito simples: todo o sal de que necessitamos está nos alimentos naturais que comemos, em média 1,2 gramas(500 mg de sódio) ao dia.
Uma dieta variada fornece sal suficiente para o funcionamento do nosso corpo e o excesso tem que ser eliminado pelos rins. Ou seja, o sal que acrescentamos aos alimentos tem que ser todo eliminado pelos rins, o que provoca sobrecarga nesses órgãos.
Por ter propriedade osmótica, o sal atrai água, sobrecarregando o sistema cardiovascular. A cada 9 gramas de sal ingeridas, o organismo retém um litro de água e esse aumento na quantidade de sangue circulante faz a pressão arterial subir.
E pressão alta é prejudicial?
Sim. A hipertensão é responsável por milhões de óbitos no mundo todo e grande causadora de invalidez, devido aos acidentes vasculares cerebrais (AVCs) que provoca.
Estudos feitos em grandes populações mostram que a redução de sal na dieta leva a diminuição da pressão arterial e consequentemente redução no número de infartos e AVCs.
Em um estudo feito na Universidade da Califórnia, nos EUA e publicado no New England Journal of Medicine, os pesquisadores construíram um modelo de simulação computadorizada para explorar o impacto que pequenas reduções do consumo de sódio teriam na incidência de doenças cardiovasculares, na população de 35 a 84 anos de idade.
Os resultados impressionaram. Uma redução de apenas 3 g de sal no consumo diário, reduziria o número de infartos (de 54 a 99 mil casos por ano), de derrames cerebrais (60 a 120 mil por ano) e de mortes por outras causas (44 a 90 mil por ano). Como consequência o sistema de saúde do país economizaria U$ 10 a 20 bilhões, anuais.
Mesmo reduções diárias da ordem de 1 g já seriam suficientes para melhorar os índices de mortalidade.
Pelas inúmeras evidências de benefício na população em geral, as sociedades médicas e os governos de vários países têm lançado campanhas de conscientização sobre a necessidade de se adquerirem hábitos de vida mais saudáveis, um deles sendo a redução de sal na dieta.
A maior parte do sódio que consumimos vem dos alimentos industrializados, por isso o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação(ABIA) iniciaram um programa de redução de sódio em produtos processados como caldos, temperos, margarinas, cereais matinais, massas instantâneas, pães de forma, batatas fritas e biscoitos.
A Organização Mundial de Saúde recomenda o consumo máximo de 5 gramas de sal(2 gramas de sódio) por dia. Nosso consumo atual é de 12 gramas de sal ao dia.
Eis alguns produtos processados campeões de sódio (lembrar que cada grama de sal contém 400 mg de sódio):
Frango empanado – 759 mg de sódio em 130 g
Hambúrguer bovino – 567 mg de sódio em 80g
Macarrão instantâneo com tempero - 2721 mg de sódio em 85 g
Macarrão instantâneo sem tempero – 1198 mg de sódio em 80g
Salsicha – 551 mg de sódio em 50g
Hambúrguer de frango – 525 mg de sódio em 80 g
Biscoito de polvilho – 270 mg de sódio em 30g
Biscoito cream cracker – 230 mg de sódio em 30g
Salgadinho de milho – 176,9 mg de sódio em 25g
Requeijão – 165 mg de sódio em 30g
Pão francês – 648 mg em 100 g
Maionese – 1567 mg em 100 g
Os refrigerantes também exageram. Uma fanta uva normal contém 21 mg de sódio e a fanta uva zero contém 45 mg(ou seja, 70 mg de sal). A Coca Zero, 49mg de sódio(75mg de sal)
Portanto, vale a pena reduzir o sal, lembrando que é apenas uma questão de hábito . O sal pode ser substituído por temperos como alho, cebola, salsinha, cebolinha, orégano, hortelã, limão, manjericão, coentro, cominho, entre outros.
E retirar o saleiro da mesa
Lembre-se: Menos sal, o mesmo sabor, mais saúde.
JOSÉ ALMIR ADENA é médico- cardiogeriatra e um dos fundadores do departamento de Cardiogeriatria da Sociedade Brasileira de Cardiologia(SBC); participou das primeiras diretrizes sobre cardiogeriatria no mundo