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Cuiabá, 02 de Janeiro de 2025
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07 de Dezembro de 2013, 08h:54 - A | A

OPINIÃO / JOÃO EDISOM

Novembro roxo

Até nos dias de hoje costumamos associar as cores preto e/ou roxo como a cor do luto

JOÃO EDISOM



Durante muito tempo e até nos dias de hoje costumamos associar as cores preto e/ou roxo como a cor do luto. Mas o roxo ainda é utilizado com frequência para sinalizar a ruborização em casos de vergonhas exacerbadas e termos como fulano ficou “roxo de vergonha” são comuns entre nós. Pois bem, o mês de novembro ficou para trás “roxo” como nunca. No Brasil prisões aos mensaleiros, fiscais em São Paulo, Operação “Ararath” e “Ararath 2”, Operação “Aprendiz”... Ainda bem que dezembro chegou! Será?

Contudo, tais operações por aqui ainda estão em processo de investigação. Então não vamos antecipar julgamentos. Ainda não são casos julgados, são investigações. Mas cabe a nós fazermos juízo de valores sobre a política, o uso e mau uso da coisa pública, sua origem, sequências e consequências. Até porque, estas são algumas de tantas que já ocorreram e de outras que estão por vir. Por que Brasil?

Desde 1500, o litoral brasileiro foi alvo constante de ataques de piratas e corsários. Durante quase três séculos, os colonizadores portugueses tiveram que enfrentar o problema das invasões estrangeiras. O período pré-colonial (1500 a 1531) é o período que vai do descobrimento pelos portugueses até o início do povoamento e colonização efetiva do território com a expedição de Martim Afonso (1532), primeiro governador geral do Brasil. O período foi marcado pelos primeiros contatos com os indígenas, por expedições exploratórias e de patrulha portuguesas e pelos choques com corsários.

Um corso, ou corsário, do italiano corsaro, comandante de navio autorizado a atacar outros navios, era uma espécie de pirata oficial que, por missão ou carta de corso (ou "de marca") de um governo, era autorizado a roubar navios de outra nação. Os corsos eram usados como um meio fácil e barato para enfraquecer o inimigo. Com os corsos, os países podiam enfraquecer os seus inimigos sem suportar os custos relacionados com a manutenção e construção naval.

Como os corsários no fundo não eram bem vistos por ninguém, por serem pessoas sem escrúpulos e sem valores morais rígidos que se prestavam a qualquer papel em troca de lucro fácil, não era bem vistos nem pelos seus próprios mandantes. E muitos destes, devido nosso país estar distante da Europa somado as facilidades proporcionadas por Portugal na época, encontraram abrigo nestas terras e por aqui ficaram e formaram suas famílias. Portanto, parte dos nossos são descendentes de corsários e fazem até hoje parte destas práticas “jeitosas” de ganharem a vida. Dai quem sabe o termo “jeitinho brasileiro” que tanto nos atormenta e envergonha.

Até 1700 cerca de 100 mil portugueses se deslocaram para o Brasil. A maioria dos quais fazia parte da iniciativa privada. Estas pessoas eram grandes fazendeiros ou empresários falidos em Portugal que vinham para cá e tentavam se enriquecer de forma fácil para depois retornar e gastar aos montes o que daqui tinham retirado. Aqui dedicavam-se principalmente à agricultura, baseada na exploração do trabalho escravo, inicialmente efetuado por indígenas, mas sobretudo por escravos africanos. Gente explorando gente e enriquecendo a custa do trabalho dos outros.

Foi só em 1808, com a abertura dos portos, que foi permitida a entrada de cidadãos de outras nacionalidades no país. A chegada de gente de outras nações não alterou muito este quadro. Depois dos suíços no Rio de Janeiro, chegaram em São Paulo, e principalmente no sul do país, italianos, alemães e poloneses fugindo de guerras, das pestes e da fome que assolava a Europa. Suas estadias no primeiro momento também não foram das melhores. Abandonados e explorados ao mesmo tempo pelos senhores do poder.

Nossa história não é só isso, mas acentuo este momento para entendermos o porquê de nossos pouco mais de 500 anos de vida serem carregados de pessoas que ao se revestirem do poder possuem uma enorme capacidade de querer crescer as margens da ética e da moral, pois nossa origem credenciou como heróis muitos corsários.

Do outro lado encontramos parte dos explorados que, para terem uma melhor oportunidade nas fatias do poder, se acostumaram com as migalhas da corte dos larápios. É por isso que político denunciado ou ruim nem sempre perde eleição ou desocupam o poder, pelo contrário, permanecem nos cargos ou sobem de cadeira com a ajuda popular. Apenas uma educação de qualidade poderá acelerar esta mudança triste em nossa genética. Mas quem pode fazer esta mudança quer fazer? Que dezembro nos proteja!


* JOÃO EDISOM DE SOUZA é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.

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