O Espiritismo e a família

Na data em que o Brasil completou 513 anos de seu descobrimento, em abril passado, refletimos sobre a marcante presença do Espiritismo em seu território, tendo se tornado o país no qual a Doutrina Espírita mais cresceu em número de adeptos, de simpatizantes, de instituições e de benevolentes ações, muitas destas sem alarde e com muita discrição.

 

Na atualidade, como nos asseguram os dados publicados há menos de um ano pelo IBGE, o número de espíritas aumentou em 65% em dez anos, somente dentre as pessoas que se declararam espíritas. Neste aspecto, vale considerar que nos centros espíritas, e mesmo fora deles, muitos não se assumem como tal, seja por falta de conhecimento, seja por aguardarem um ato exterior que lhes confira um suposto título inexistente. De qualquer modo, atendo-nos somente àqueles seres que se declararam espíritas, em 2010 o Brasil já contava com 3,8 milhões, o que representava 2% da população brasileira.

 

Assim, como a Doutrina Espírita estuda a origem, a natureza e a destinação dos espíritos, sua relação com o mundo corporal, sua realidade existencial, com fulcro nos princípios da nossa comunicabilidade com os espíritos, da multiplicidade dos mundos habitados, da convicção raciocinada no tocante à existência de Deus, na lógica da reencarnação, dentre outros, já são muitos os brasileiros (ou estrangeiros que por aqui vivem) que já puderam entrar em contato com as lições ventiladas sob a bandeira “Deus, Cristo e Caridade”.

 

Isso nos leva a considerar que, se os espíritas permitirem que a Doutrina Espírita cumpra a sua missão de ser o Cristianismo Redivivo, ou seja, de oferecer meios para se vivenciar aquele movimento filosófico-religioso libertador das consciências que existia nos primeiros séculos da Era Cristã, seus verdadeiros seguidores estarão se aperfeiçoando moral e intelectualmente, logrando ser agentes do bem, da paz; justamente o que caracteriza um verdadeiro espírita, numa ação íntima e perene, e não numa solenidade exterior.

 

No entanto, inobstante a relevância técnica da citada pesquisa, o que deve ser realmente levado em conta por cada espírita é o que este tem feito dos ensinamentos cristãos que lhe são destinados. Se continua agindo da mesma forma equivocada e prejudicial a si mesmo, pouco valerá o conhecimento dos ensinamentos, codificados e metodicamente estudados por Allan Kardec, dissociados da sua prática.

 

 Por essa razão, cada um é convidado a fazer uma “pesquisa interior”, mergulhando em reflexões cada vez mais profundas com o fito de se conhecer e, a partir daí, colocar mãos à obra para se melhorar. Aí então, o Espiritismo, feito pelos adeptos da Doutrina, logrará cumprir sua destinação, desde que as pessoas que lhe são afeiçoadas se esforcem para fazer o bem no limite de suas forças, sobretudo no ambiente familiar, porquanto é na família que encontramos a maior oficina de labor consciencial, gerado pela oportunidade da convivência com seres humanos que possuem costumes, anseios e evolução diversos, tendo-se em vista que somos criaturas únicas, não havendo duas pessoas exatamente iguais no Universo.

 

A família é uma benção de Deus para o progresso da humanidade. Ainda que muitos tentem ridicularizar a instituição familiar, não restam dúvidas de sua indispensabilidade para que possamos nos tornar pessoas melhores, ocasionando, naturalmente, o avanço da sociedade. Vários são os exemplos disso; um deles vimos há poucos dias, quando Eric Moger, um britânico de 60 anos, foi submetido com sucesso a uma cirurgia de reconstrução de sua face por meio da impressão em 3D da parte óssea que havia sido lesada por um câncer. 

 

Além de poder voltar a sentir o sabor de alimentos líquidos e sólidos, eis que assim não se alimentava por conta das sequelas da citada doença vencida, o Sr. Moger está com data de casamento marcada. É o amor! O amor é mesmo esse dínamo capaz de edificar sempre, e quando nos permitimos vivenciá-lo em família, inevitavelmente, cada pessoa se sente mais próxima de Deus.

 

Assim como o homicida, o estuprador, o corrupto, o pseudoamigo, procedem de uma família desajustada; o homem e a mulher de bem, o trabalhador dedicado, os pais que se esforçam para dar bons exemplos agem assim porque aprenderam que ética não é fim nem meio, mas princípio internalizado no seio familiar. Por isso, os Espíritos Superiores da humanidade, ao responderem à questão 775 de O Livro dos Espíritos asseveram que “o relaxamento dos laços de família ensejaria, para a sociedade, a recrudescência do egoísmo”; ao passo que Jesus nos invita à vivência do amor e da humildade.

 

Por sua vez, o Espiritismo nos exorta a sermos as cartas vivas do Evangelho, fato que é plenamente possível e que principia na perseverança íntima para sermos autênticos cristãos na família e, por conseguinte, na sociedade.