JOÃO EDISOM
As cidades se transformaram em grandes condomínios, principalmente as maiores. Os gestores públicos são apenas síndicos deste aglomerado de pessoas que deverão conviver em harmonia e retidão afinal, estamos tão próximos uns dos outros que cada ação nossa afeta os vizinhos, assim como as ações dos vizinhos afetam nossa rotina. A cidade é uma única casa cheia de repartições. Todos nos encontramos de forma direta e indireta a cada instante do dia. Estamos preparados para esta convivência?
A prova da dificuldade desta convivência é o transito; coisas como o lixo, o barulho dos potentes aparelhos de som automotivo ou não, uso dos bens públicos, o próprio transporte público, bem como o simples transitar a pé pela cidade demostra que nossos costumes ainda estão enraizados na fazenda, sem nenhum demérito a quem vive no campo. É que lá o mundo é praticamente seu; vizinhos moram longe e seus afazeres interferem pouco na vida dos outros.
O que assusta nesta convivência deste grande condomínio chamado cidade é a ausência de consciência de que minhas ações estão todas integradas e o que faço afeta a vida dos demais seja para o bem ou para o mal. A dengue, por exemplo, é uma doença da falta de zelo de muitos moradores deste grande condomínio chamado cidade. Quando o cidadão vai perceber que a cidade é de todos?
O poder público terá que ter também a consciência que seu papel não é só fazer; é ser em primeiro lugar exemplo e em segundo ser o grande agente conscientizador e fiscalizador das ações de seus condôminos. Funcionário público terá necessariamente que ser um exemplo, seja eleito, contratado, efetivo ou simplesmente prestador de serviços. As empresas terão necessariamente que agregar suas marcas a boas ações e a conceitos proativos de tolerância e convivência.
Neste grande condomínio a vida e a forma de viver importam muito. A harmonia das pessoas está ligada com a harmonia dos ambientes das ruas e avenidas, com a integração entre o velho e o novo, a arquitetura das casas e a natureza vegetal. Não há vida sem poesia, nem poesia sem encanto e muito menos encanto sem educação e sem gente educada. Cobramos muito dos outros, mas nós como agimos?
É vergonhoso transitarmos nas ruas com um visitante e enxergarmos lixo nos bueiros e calçadas, pessoas com seus veículos em fila dupla, ruas trancadas por que alguns agem como se elas fossem apenas suas e carros estacionados nas calçadas. É assustador a falta de qualidade no atendimento dos serviços públicos e em empresas privadas que deveriam ser exemplo. Neste condomínio não falta motivo para passarmos vergonha diante de um visitante. Mas quem irá consertar isso?
Vivemos um momento de grandes transformações na paisagem da cidade, mas pouco adiantará depois destas grandes reformas se nossas atitudes continuar as mesmas. Precisamos cobrar o sindico sim, mas é essencial ajudarmos a governar agindo de forma racional. O nosso espaço tem extensão e o meu direito começa dentro do direito de todos. As obrigações do outro são minhas também. A cidade que quero não é apenas uma nova trincheira que tenho que passar. A cidade que eu quero é um condomínio que tenho que ajudar construir.
* JOÃO EDISOM DE SOUZA é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso e colaborador de HiperNotícias.