Falar em educação política faz a gente refletir sobre as nossas origens. Voltar no tempo, para tentar entender como o Brasil se tornou essa grande nação. Evoluiu? Nem tanto, ao ponto de se transformar num país desenvolvido, apesar de ter quase a mesma idade que os Estados Unidos da América.
Longe de ficar procurando culpados para justificar as mazelas praticadas por políticos durantes esses séculos de existência, devemos é compreender como se deu a formação de nossa cultura, fundamental para termos educação política.
Um bom começo é saber de que forma aconteceu o “Descobrimento do Brasil”? Ele ocorreu acidentalmente (como aprendi na escola) ou intencionalmente?
Nos idos de 1.500, Lisboa exibia a condição de capital multicultural e exótica. D. Manuel acabara de transferir para o Paço da Ribeira a residência e administração do Reinado. Existiam dois pontos de grande importância na cidade: um centro de vendas de alimentos sobre tabuleiros ao redor dos Arcos do Rossio e a Ribeira das Naus, com oficinas e barcos para serem lançados ao Rio Tejo.
Quando Vasco da Gama retornou à Lisboa, depois de dois anos e dois meses de viagem às Índias, D. Manuel ofereceu uma recepção grandiosa. Afinal, o navegador português realizou um encontro com o mundo muçulmano, país dos tecidos de algodão e especiarias, tendo sido recebido pelo Rei de Calicute, o “Senhor dos Mares”, o Samorim.
Foi nessa ocasião que o monarca português encontrou a grande oportunidade de lançar o país a alcançar voos mais altos na área da navegação e poderio territorial. Ele tratou de apressar a dar a notícia da viagem às Índias ao Papa Alexandre VI e aos seus vizinhos, os reis católicos – Isabel e Fernando – para tentar convencer o Vaticano, por meio de várias doações, a organizar uma poderosa segunda expedição para “dominar as Índias”.
Com o pretexto de apresentar Portugal como uma nova potência cristã ocidental, a armada foi construída às pressas e seria comandada por Pedro Álvares Cabral, com 12 Naus e 01 Caravela. No dia 9 de março de 1.500 zarpou, com a ideia de fazer uma curva um pouco mais alongada e parar primeiro nas terras que seriam depois batizadas de Brasil. Pois, agora se sabe que o afastamento para oeste foi intencional, já que desde 1452 sabia-se da existência de terras a noroeste dos Açores e da Madeira.
Assim descreveu Mary Del Priori: “ A intenção de colocá-los a par das notícias escondia seu interesse em acelerar os fatos. Apoiado na desculpa de que havia uma suposta população católica na Índia, que se deveria integrar à cristandade ocidental a fim de lutar contra o Islã, o monarca português ambicionava o controle do comércio de especiarias e pedras preciosas. Doravante, em vez de passar por Meca, pelo Cairo ou Alexandria, a nova rota conduziria ao Cabo de Boa Esperança”.
Os portugueses não eram amadores. Estratégia e ação eram parte do tipo de governo que comandou os inícios daquela que foi a primeira nação moderna da Europa. O que aconteceu depois, é outra história e mostra como uma potência declina e se torna vassala.
Dessa época herdamos a ideia de Estado e as burocracias que lhe dão capacidade de se espraiar por todos os campos da vida social. O grande Raymundo Faoro, em sua obra magistral “Os Donos do Poder”, nos ensina que o Brasil nasceu primeiro como Estado, depois é que veio a sociedade, o povo. Foi uma terra onde o Estado português forjou sua imagem, por meio das Capitanias Hereditárias, depois do Vice-reino, e depois como capital do Reino.
Em toda história colonial, o que se procurava estabelecer era a figura do Reino, do Estado português, das ordenações, da burocracia e do império das leis ditadas pelo Rei e seu Conselho.
Diferentemente dos Estados Unidos da América, as comunidades, os comerciantes que para cá vieram sonhavam em retornar com fortuna. Os demais não viam ainda o país como uma unidade. As primeiras faíscas de nacionalismo e da ideia de uma nação como aquela que nos EUA se fundava, só apareceu no século XVIII em Minas Gerais.
Vicente Vuolo é economista, cientista político e analista legislativo do Senado Federal.
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