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Cuiabá, 26 de Dezembro de 2024
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26 de Setembro de 2013, 08h:52 - A | A

OPINIÃO / ATÉ 2014

Estou em greve

O governo atual completa onze anos de poder absoluto e nunca na história deste país houve uma ligação tão forte entre governos, sindicatos, banqueiros e empreiteiras.

JOÃO EDISOM



Sou brasileiro e o Brasil está em greve. Estão em greve os professores estaduais, cujo patrão é o governo estadual; estão em greve os carteiros, cujo patrão é o governo federal. Estão em greve os bancos, cujos patrões são os banqueiros; então eu estou em greve, o Brasil está em greve. Mas governos e banqueiros estão em festa. O que está acontecendo?

O governo atual completa onze anos de poder absoluto e nunca na história deste país houve uma ligação tão forte entre governos, sindicatos, banqueiros e empreiteiras. Mas esta última não entra na conta uma vez que são amplamente beneficiadas com obras da Copa e das Olimpíadas assim com já foram nos jogos pan-americanos. E seus “operários”, apesar de explorados e de fazerem greves constantes, não entram na conta dos efetivos de carreira e qualificados.

Este poder agora constituído nasceu das lutas dos trabalhadores. Fortaleceu e divulgou suas ideias (nunca colocadas em prática) através das várias greves e centrais sindicais nos anos 80 e 90 do século passado. Mas foi a partir de 2002 que impuseram no país suas regras de paternalismo com troca de voto e bênçãos aos capitalistas mais cruéis em troca de financiamentos de campanha. Quem paga a conta é quem está no meio da pirâmide, pois os dois extremos tem as bênçãos palacianas, embora nada republicanas.

Os sindicalistas filiados aos partidos governistas passaram para o outro lado, viraram governo, desmantelando assim a engenharia sindical; atrelando e massacrando as categorias em função de seus projetos individuais de carreira política. Ou candidataram ou assumiram cargos usando a luta das categorias como trampolim, sem, contudo devolver nada a esta categoria.

As velhas lutas por melhores condições de trabalho e ganho real nos salários foram abandonadas. Novas proposituras foram tomando cada vez mais espaço em suas agendas de manutenção do poder constituído. Isto é mais que traição: é roubo! Pois estas senhoras e senhores oriundos dos sindicatos que hoje ocupam cargos políticos, sejam eles com mandato eletivo ou por indicações governamentais, roubaram o sonho dos trabalhadores e das trabalhadoras que durante anos só pensaram em produzir com melhor qualidade e receber valores dignos pelos seus dias trabalhados.

Há quem diga: mas houve avanços. Sim, principalmente para aqueles que usufruíram da luta para melhorar a própria vida a custa da popularidade e da proximidade com o poder constituído. Devolveram a categoria? Não. E nem vão devolver. Agora o que ocorre é que os mesmos surrados e calejados operários do bem social estão na luta e desassistidos novamente, pois quem tem poder está do outro lado.

O resultado deste despautério é que nem governos e nem banqueiros estão nem aí para as greves. Ao contrário; banqueiros parecem ainda mais contentes, pois os gerentes com cargos comissionados estão trabalhando mil vezes mais. Professores e carteiros irão economizar custos públicos e arrebentar suas já mal elaboradas férias. Ou seja, tanto carteiros, professores ou bancários serão punidos por quererem prestar um serviço de melhor qualidade para a população e principalmente por quererem ganhar algo mais condizente com suas responsabilidades e com seus esforços. Então parece que estar greve está dando lucro para quem deveria dar prejuízo?

E nós, sociedade? Fazemos o que? Parece que não temos nada com isso. Mas somos nós que deveríamos estar a frende desta batalha, pois os bancos são responsáveis pelo roubo e saqueamento das pessoas e das empresas que estão no meio da pirâmide. Os bancos enriquecem em torno dos juros e das taxas, ambas abusivas, arrancadas do suor e da vida das pessoas. O trabalhador paga duas vezes para estudar ou para colocar seus filhos na escola e mesmo assim não tem uma educação com qualidade para garantir futuro para si ou para seus filhos. E na Era da internet ainda sofremos com a morosidade e irregularidade das entregas via Correios. Ainda assim ficamos olhando como se a greve não fosse nossa. Pois bem, parem o Brasil que eu quero descer! Não sou Carteiro, nem Professor da rede estadual muito menos Bancário, mas quero me indignar sempre. Hoje estou em greve e vou permanecer assim até colocar meu voto na urna em 2014.

* JOÃO EDISOM DE SOUZA é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.

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