LUCAS COSTA BEBER
O recente anúncio do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, sobre a redução das alíquotas de importação de milho para conter os preços internos gerou polêmica e preocupação no setor agrícola. A justificativa? Garantir que o milho não seja mais caro no Brasil do que no mercado internacional. No entanto, o que parece uma solução simples é, na verdade, uma decisão que pode ter consequências desastrosas para o país no longo prazo.
Reduzir alíquotas para facilitar a importação de milho é o mesmo que abrir as portas para uma concorrência desleal com os produtores brasileiros. Enquanto aqui o governo desestimula a produção nacional, lá fora, governos incentivam seus agricultores com subsídios e políticas de apoio que os tornam mais competitivos. Essa medida pode parecer um alívio imediato para os consumidores, mas os impactos a longo prazo serão sentidos por toda a sociedade.
Com milho estrangeiro entrando no mercado a preços mais baixos, os agricultores brasileiros enfrentam uma competição desigual. Isso pode levar à diminuição da produção interna, prejudicando não apenas os produtores, mas toda a cadeia produtiva.
O Brasil, líder mundial na exportação de alimentos, corre o risco de se tornar dependente de importações para atender à demanda interna. Isso aumenta a vulnerabilidade a crises globais e variações cambiais.
O milho é a base para a produção de ração animal, essencial para aves, suínos e bovinos. A queda na produção interna pode encarecer outros alimentos, gerando uma cascata inflacionária.
Os principais concorrentes do Brasil no mercado global de milho, como Estados Unidos, Argentina e União Europeia, oferecem condições muito mais favoráveis aos seus agricultores.
Produtores estrangeiros recebem apoio financeiro direto de seus governos, o que reduz os custos de produção e aumenta a competitividade.
Redes ferroviárias e hidrovias modernas permitem o transporte de grãos com custos significativamente mais baixos do que o Brasil, que depende majoritariamente de rodovias e diesel caro.
Políticas fiscais favoráveis nos Estados Unidos e na União Europeia permitem acesso mais barato a fertilizantes, defensivos e máquinas.
Enquanto no Brasil as taxas de financiamento agrícola são elevadas, frequentemente acima da Selic, os concorrentes contam com crédito subsidiado e juros baixos.
Antes de facilitar a importação, o governo deveria priorizar medidas estruturais que fortaleçam o setor agrícola nacional e beneficiem toda a sociedade:
Desonerar insumos como fertilizantes e defensivos agrícolas, além de rever a carga tributária que incide sobre o setor.
Projetos como a Ferrogrão e a ampliação de hidrovias e portos reduziriam os custos logísticos e aumentariam a competitividade.
Tornar as taxas de financiamento agrícola compatíveis com as de países concorrentes, possibilitando maior investimento no campo.
A reoneração de combustíveis como o diesel aumentou os custos de transporte e produção. Reverter essa medida é essencial para aliviar a pressão inflacionária.
Ao enfraquecer os produtores nacionais, o Brasil se torna dependente do milho estrangeiro, sujeito a preços internacionais e flutuações cambiais. O resultado? Preços mais altos e instabilidade no abastecimento. Além disso, a perda de competitividade afeta diretamente a economia, com menos geração de empregos e menos investimentos no setor rural.
A redução das alíquotas para importação de milho pode parecer uma solução de curto prazo, mas seus efeitos são prejudiciais e duradouros. Em vez de enfraquecer a produção nacional, o governo deveria focar em soluções que fortaleçam o campo, garantam alimentos mais baratos e sustentem a economia brasileira no longo prazo.
O futuro do Brasil depende de políticas que valorizem quem produz, não de medidas que colocam em risco nossa autossuficiência alimentar. Precisamos de um governo que entenda que enfraquecer o produtor brasileiro é enfraquecer o país inteiro.