ADRIANO ALENCAR
“De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras?” (Tiago 2:14). Partindo do questionamento do Apóstolo Tiago vamos refletir na sábia reflexão contida no questionamento feito a mais de dois mil anos, em termos de Segurança Pública, tendo como cenário os dias atuais e referência nossa atuação Policial desde o ano de 2001, buscando sempre a melhor resposta dentro de nossas limitações, baseada em nossa vivência familiar, pessoal, de religiosidade e com o propósito de responder adequadamente a população com nossa missão de produzir um serviço de Segurança Pública profissional, de resultados e com respeito ao cidadão com o que dispomos hoje de estruturas física e humana.
Desde que começamos a trabalhar na Segurança Pública que as Polícias (PJC, PF, PRF, PM, BM) de alguma forma convivem com a falta de servidores, estrutura e política de cargos e salários adequada aos profissionais de tão importante serviço público, que a priori é responsabilidade do Estado, direito e responsabilidade de todos nos termos Constitucionais.
Lembro-me de ter empurrado viatura policial por falta de combustível (chegando à situação vexatória de vítimas de crimes oferecerem abastecimento), de viatura ficar parada no pátio da Delegacia por falta de manutenção, de prédios das Delegacias sucateados, de desrespeito à carga horária de trabalho, de promoções na carreira com ausência de critérios objetivos, de falta de armamento e coletes... para citarmos alguns exemplos de dificuldades vividas por nós policiais no cotidiano de buscar realizar a contento esta árdua missão neste país de dimensão continental. No entanto, nunca utilizei tais desculpas para não realizar meu serviço, tendo sempre encontrado de alguma forma uma solução ou encaminhamento do problema a quem de direito que poderia ou deveria nos ajudar.
Logo nos primeiros passos na carreira policial aprendemos a buscar contornar os obstáculos e nos mantermos firmes no propósito de sermos os heróis anônimos de uma população de valores invertidos que clama por Segurança (índices de violência altos por todo o país, como regra), tentando com aquilo que dispomos realizar o melhor possível como referido. Esperar por uma resposta burocrática do Poder Executivo ou dos Gestores de Segurança Pública nem sempre vai resolver o problema urgente que esta a nossa frente e não pode esperar. Assim buscamos construir um aprendizado Policial nos diversos cargos (Sargento PM, Investigador PJC, Delegado) e nos Estados que atuamos (Goiás, Tocantins e Mato Grosso) sempre nos pautando pela união dos órgãos policiais com os demais responsáveis pela persecução penal, sempre buscando resultados onde atuamos ao longo destes 15 anos.
Na verdade por onde passei como gestor no cargo de Delegado, a partir do ano de 2009, adotei uma gestão baseada na integração das forças policiais e apoio do Ministério Público e Poder Judiciário, no sucesso da equipe de investigação e disseminamos que somente com união da equipe seremos vitoriosos, tendo sempre que possível o Delegado a frente das diligências. O exemplo contagia muito mais que palavras, e acredito que o cargo de Delegado possui natureza híbrida, tanto policial como jurídica nos tornando únicos na persecução penal, como primeiro filtro das garantias dos custodiados pelas diversas forças policiais.
Com essa experiência adquirida, frente a um novo desafio, diante da possibilidade de remoção que nos foi possibilitada no ano de 2014, escolhi ser lotado na comarca de Primavera do Leste, tendo aqui encontrado ambiente propício para buscar desempenhar nossa função, mesmo diante das adversidades e índices de violência que preocupavam todas as autoridades do município.
Desenvolvemos com apoio de nossa direção e demais órgãos ligados diretamente ou indiretamente à Segurança Pública um trabalho de gestão eficiente dos recursos disponíveis (buscando por óbvia solução de nossas dificuldades), fruto da nossa experiência e que contou com a boa vontade de todos os policiais em realizar o melhor possível, integrados com todas as forças policiais e civis.
Paulatinamente essa união foi aumentando, a integração de todos através do Gabinete de Gestão Integrada (GGI) contribuiu para diversas ações. O trabalho foi aparecendo e fomos ganhando o apreço da população através das várias ferramentas de redes sociais (Facebook, Whatsapp e 197), como também com o projeto das Audiências Comunitárias.
Podemos neste atual momento afirmar que num contexto brasileiro e do Estado de Mato Grosso, a situação de Segurança Pública de Primavera do Leste melhorou acima da média, sendo que essa percepção é fruto de muito trabalho e comprometimento dos Policiais aqui lotados. Não é fácil mudar toda uma situação desfavorável com falta de estrutura e recursos, os investimentos feitos para as forças policiais não são ao nosso sentir como em outros órgãos, por exemplo, a pasta da saúde que possui orçamento vinculado ou como no caso da Defensoria, Ministério Público e Poder Judiciário que possuem autonomia financeira para buscar desempenharem suas funções.
A situação das leis penais não favorece as Polícias na missão de Segurança Pública, tanto que nunca se prendeu tanto e infelizmente a punição dos infratores da lei não está na mesma medida da atuação policial, fato este incontroverso e que por vezes gera desestímulo nos Policiais. Assim o que realmente propiciou esta melhora foi em nossa opinião uma mudança de gestão e operacional das forças policiais que encontraram no apoio mútuo uma resposta mais adequada de Segurança Pública, que nos fortaleceu frente o clamor da população de nossa região, que acompanhou toda esta melhora.
Por derradeiro, como resposta ao questionamento inicialmente feito e diante das nossas considerações acreditamos que a melhor resposta para a Segurança Pública diante das cobranças da população foi o que vivemos neste ano e meio que estamos lotados aqui em Primavera do Leste, tendo como resposta os resultados obtidos por todos que contribuíram para essa melhora, com diminuição de todos índices de crimes, notadamente os homicídios que em 2014 foram 44 e no ano de 2015 foram 15, pois ao nosso sentir a população esta cansada e não tolera mais discursos e projetos que não são palpáveis.
Com certeza a solução de Segurança Pública não é simples, temos problemas comuns de longa data que necessitam urgentemente de uma discussão e solução, que acreditamos serem necessárias a médio e longo prazo, já que em curto prazo diante do cenário atual de crises política e financeira não acreditamos que aconteça, nos sobrando apenas como opção uma gestão eficiente daquilo que dispomos com a união de esforços aqui estabelecida pelos diversos gestores de tão importante serviço público, que acreditamos que deva ser PROFISSIONAL, DE RESULTADOS E DE RESPEITO AO CIDADÃO.