GUSTAVO NASCIMENTO
Apesar de sempre adorar esportes, sempre fui meio avesso a um em específico: a Corrida, em especial a maratona! Nunca achei muita graça nisso. Correr, correr, correr...sempre me pareceu meio arcaico, chato e entediante demais, tanto pra assistir quanto pra praticar.
Se você não concorda, conheça a história da maratona, por exemplo. A maratona surgiu no ano de 490 a.C., quando os soldados de Atenas partiram para a planície da cidade de Maratona para combater os persas. Suas mulheres ficaram ansiosas pelo resultado porque os inimigos juraram que, depois da batalha, violariam suas esposas e sacrificariam os filhos.
Ao saberem da ameaça, os gregos programaram um suicídio coletivo, no caso não recebessem a notícia da vitória, em 24 horas.
"Eu brigo tantas vezes comigo durante o percurso que um dia ainda peço divórcio ou mato parte de mim, mas enfim quando você corre passa por alguns estágios"
Apesar da ordem, eles venceram a batalha, porém a luta levou mais tempo do que haviam pensado. Para evitar que as mulheres executassem o plano, o general grego Milcíades ordenou ao soldado e atleta Filípides, que corresse até Atenas, que ficava a 40 quilômetros, para levar a notícia.
Ele correu essa distância o mais rápido que pôde e, ao chegar, conseguiu dizer apenas "vencemos", logo após caiu morto devido ao grande esforço. Ou seja, o cara que criou essa joça simplesmente morreu.
No ano 1896, nos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna, Filípides foi homenageado com a criação da prova, cuja distância era de quarenta quilômetros.
Como já disse, corrida é algo chato, mas não tem jeito. Voltei a correr e passei a dar 10 voltas trotando na pista de atletismo. Algo como inexpressíveis 2 mil metros (hoje faço 8,5 mil metros).
Entre as coisas que eu percebi na corrida é que o maior inimigo deste esporte é a gente mesmo. Eu brigo tantas vezes comigo durante o percurso que um dia ainda peço divórcio ou mato parte de mim, mas enfim quando você corre passa por alguns estágios.
As 3 primeiras voltas ficamos brigando pra achar o ritmo, a passada e a respiração certa. A 4ª e 5ª voltas começam a briga com o cérebro que insiste em te dizer que você não aguenta, que está cansado, que devia estar em casa, que nada disso adianta mesmo.
Aí chega na 6ª volta e bem, realmente queremos desistir. Ainda faltam 4 voltas, e até a velhinha com um andador te ultrapassa. Revoltante!
Até que chega a 7ª volta. Bem, é meio engraçado porque parece que nessa hora tudo está bem, a música do Mp3 está em compasso com as passadas, com a respiração e com os pensamentos. Esquecemo-nos de tudo e fazíamos há 6 voltas. Há apenas a pista e a corrida. Sem pensamentos e sem erros ou cobranças. Não há medo, apenas corrida.
A vida não é lá muito diferente do que a pista de corrida. Passamos um terço do tempo brigando com nós mesmos. Outro terço nos diminuindo e brigando com os outros e só aproveitamos 'o momento' quando nos resta menos do que deveria. Se tiver uma coisa que eu aprendi neste esporte é que tenho que parar de perder tempo e chegar logo à 7ª volta.
GUSTAVO NASCIMENTO é repórter