Em matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo, em 25 de fevereiro, intitulada “(In)Segurança Pública: prejuízos para o país”, nas páginas B1, B2 e B3, temos elementos que, isolados ou em conjuntos, reclamam uma reflexão acerca da relação entre a violência e seus impactos econômicos no bojo de nossa sociedade.
O jornalista Carlos Eduardo Valim avalia: “As empresas brasileiras desembolsam por volta de R$ 171 bilhões por ano para se proteger da violência, valor equivalente a 1,7% do PIB de 2022”.
Com cálculos baseados em pesquisas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), chega-se a uma estimativa de que o custo total com segurança no Brasil por ano seja de 5,9% do PIB.
Há, portanto, gastos diretos e indiretos gerados pela violência. Os diretos dizem respeito aos pagamentos pela proteção por empresas de segurança privada e com a contratação de apólices de seguros. Indiretamente, existem as despesas do governo e as perdas da produtividade com homicídios: algo em torno de R$ 595 bilhões por ano. Em um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a estimativa é de perda de 5,5% de todas as riquezas geradas no Brasil e cerca de R$ 1,8 por cidadão, conforme os dados de 2018.
Há, contudo, dois setores que ganham com a violência: segurança privada e o de seguros. São cerca de 4.804 empresas de proteção patrimonial, que juntas empregam mais de 485 mil vigilantes. No que tange ao transporte de valores, o setor movimentou R$ 36,3 bilhões em 2021. No setor de seguros, as apólices de transporte arrecadaram R$ 5,3 bilhões, enquanto as empresariais conseguiram arrecadar cerca R$ 3,9 bilhões.
Um quadro síntese publicado no Estadão traz um cenário preocupante: o custo da violência no Brasil. Somando-se o gasto privado e público são 5,9% do PIB ou cerca de R$ 595 bilhões, valores estimados para 2022.
A executiva fluminense Maria Silvia Bastos buscou, segundo o jornal, dedicar-se ao estudo e à mobilização da sociedade civil e das autoridades para o equacionamento e enfrentamento da questão da violência e seus impactos econômicos. Em suas palavras, a pesquisadora reflete: “O crime organizado tem reverberado no Brasil não só nas periferias dos grandes centros urbanos, mas agora também na Amazônia. Isso tem um impacto não só para a qualidade de vida, que é um indicador importante para investimentos, como também sobre o crescimento econômico”.
Respondendo como se dá esse impacto da violência na economia, Bastos afirma: “Como todo mundo que estuda economia sabe, investimentos dependem muito da percepção, o que nem sempre corresponde aos fatos. Não é só a realidade que pauta a percepção. Em economia, o comportamento dos agentes econômicos é pautado pela percepção. Então, um sentimento de violência afasta investimentos. E tudo aquilo que afeta o direito de ir e vir do cidadão, que afeta a educação, quando as pessoas não conseguem ir à escola estudar, isso afeta a qualidade da mão de obra, e o custo das empresas”.
O temor maior de Bastos é que o Brasil, assim como outros países, chegue a “um ponto de não retorno” em relação à violência, ao afastamento de investidores e com a infiltração do crime organizado no poder público.
Sociologicamente, a violência é uma questão que atinge a sociedade brasileira desde sua Colonização. Aquilo que, em muitos países, seria considerado um estado de anomia, aqui, é tido como normal. No bojo das famílias, entre os amigos, na escola ou na universidade, o temor da violência molda nosso comportamento e limita nossa liberdade e criatividade. Até nas eleições municipais o tema está no centro das preocupações dos eleitores em relação aos candidatos. Isso, contudo, é assunto para outro artigo.
Rodrigo Augusto Prando é Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Cientista Social, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.
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