APARECIDO CARMO
DO REPÓRTERMT
Trocas de mensagens entre alvos da Operação Gravatas obtidas pela Polícia Civil mostram que uma das advogadas presas fazia uma espécie de “assessoria” para o tribunal do crime do Comando Vermelho. A advogada Jessica Daiane Morástica foi convocada por Robson Junior Jardim dos Santos, apontado como uma das lideranças da facção, a buscar os antecedentes criminais de três pessoas que estavam sendo “julgadas” por supostamente estarem associados com uma facção rival.
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Robson está preso no Complexo Penitenciário Ahmenon Lemos Dantas, em Várzea Grande, e falava com a advogada de dentro da cadeia.
As mensagens são do dia 7 de agosto de 2022, no período da tarde. Robson começa a conversa enviando um áudio às 14h31. “Oi doutora, tudo bom? Desculpa te incomodar. Doutora, precisava que você puxasse quatro nomes para mim de uns rapazes que são lá da Bahia. Só para mim saber se tem alguma passagem, algum processo, alguma coisa assim. Você não consegue caçar para mim, não?”, diz a mensagem recuperada pelos investigadores.
Em seguida, Robson envia as fotos das carteiras de identidade dessas três pessoas. A advogada responde às 14h57 dizendo que está chegando em casa e que já iria fazer a busca. Demonstrando naturalidade, ela chega a se oferecer para pesquisar antecedentes das três pessoas em outros estados. Robson recusa e pede que ela faça a busca apenas na Justiça da Bahia.
Às 15h38, sem ter obtido uma reposta da advogada, Robson demonstra ansiedade. “Eu estou com esses três sequestrados e amarrados no mato”, escreve. Em seguida, explica o que está em jogo: “Achei muitas fotos deles fazendo apologia a outra facção”.
A advogada responde que está ocupada com algumas audiências de custódia, mas que já vai dar uma resposta para o “cliente”.
Às 15h39, Jéssica responde a mensagem sobre o sequestro de três pessoas com uma figurinha fazendo o sinal da cruz. Para a polícia, trata-se de um ato de deboche e falta de empatia. Um tribunal do crime estava em andamento, a advogada sabia disso e nada fez.
A advogada chega a responder com “credo”. Ao ser questionado por Robson, ela acrescenta “pesado kk”. Essa mensagem é enviada às 15h40.
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A investigação da Polícia Civil apontou que além de Jessica Daiane Morástica, que atuava em Sinop, outros três advogados estavam envolvidos em uma organização criminosa que auxiliava lideranças do Comando Vermelho na prática de diversos crimes.
Eles foram identificados como: Roberto Luís de Oliveira, Tallis de Lara Evangelista e Hingritty Borges Mingotti. Além deles, o policial militar Leonardo Qualio também foi detido, por repassar para os comparsas registros policiais que ajudavam as lideranças da facção a saberem sobre o andamento das ações policiais.