APARECIDO CARMO
DO REPÓRTER MT
A família de Rafael Silva de Oliveira, que assassinou o colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, em Confresa, vinha há pelo menos dois anos buscando sua internação compulsória. Em laudo médico de 2020 obtido pelo Repórter MT, o psiquiatra Werley Peres é enfático ao dizer que o paciente precisava ser internado com urgência.
“O paciente Rafael Silva de Oliveira, 22, apresenta-se com quadro de surto psicótico grave. Está com delírio persecutório e ideias homicidas. (...) O quadro coloca em risco de vida o próprio paciente e terceiros. Assim, necessita de internação hospitalar urgente”, diz o documento.
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Em conversa com o Repórter MT, Werley Peres explicou que nessas condições, o paciente passa a acreditar que está sendo perseguido, quando na verdade isso não existe. É um quadro muito comum em pacientes em surto.
“Infelizmente a política pode ter instigado, mas os problemas dele antecedem isso. O ato dele explica, mas jamais justifica a ação de tirar a vida do outro. Como médico, a minha função é avaliar o melhor para o paciente no momento. E naquele momento de 2020, era a internação”, disse o psiquiatra.
Repórter MT
Weley Peres ainda esclareceu que não é comum pacientes na mesma situação de Rafael apresentarem ideação homicida. Normalmente eles tentam tirar a própria vida, motivo pelo qual também é recomendada a internação dessas pessoas.
Como mostrou o Repórter MT, mesmo com a apresentação de laudo médico comprovando a urgência do quadro clínico de Rafael a Justiça de Mato Grosso se recusou a interná-lo, em março de 2022. O principal argumento do juiz José Luiz Leite Lindote, responsável pelo caso, eram os riscos trazidos pela pandemia de Covid-19.
“Nesse sentido, evidencia-se imprudente e desarrazoado ordenar a internação do paciente em estabelecimento médico, contra a sua vontade, em meio a uma pandemia viral, colocando-se em risco a sua vida, em cenário na qual o mesmo sequer pôde optar pela medida”, argumentou o juiz à época.
Rafael é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) e Benedito apoiava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo relato, a vítima teria partido para cima do acusado, que revidou. Em seguida, Benedito pegou uma faca e partiu para cima de Benedito, que conseguiu tomar a arma e foi atrás da vítima.
Rafael acertou um golpe nas costas do homem, que caiu. Neste momento, o assassino deu outro golpe no olho da vítima e vários golpes na testa. Conforme o delegado, o autor do crime disse que foram ao menos 15 golpes.
Logo depois, o homem foi até um barracão, pegou um machado e voltou até Benedito, que ainda estava vivo, e o acertou no pescoço. Após a confissão, Rafael recebeu voz de prisão e flagrante por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e meio por cruel.