GABRIEL NOVIS NEVES 11h15
Falamos muito em turismo no nosso Estado, abençoado por Deus nas suas belezas naturais. Para a Copa, apostamos no ecoturismo sustentado no tripé Pantanal-Chapada e Manso.
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Recebemos um presente bruto da Natureza e temos que fazer a nossa parte, que é a lapidação de toda essa herança.
Para desfrutar desse privilégio "in natura", temos que realizar o mínimo necessário para que o turista consiga se aproximar e admirar o que ganhamos do céu.
A duplicação da estrada para a Chapada parou na entrada do lago artificial de Manso.
O projeto original mostrado à FIFA e aprovado pelos gringos, tinha iluminação no canteiro central, acostamento, ciclovias, drenagem dos córregos e obras de arte, com boa compactação e camada asfáltica-padrão internacional.
Esse projeto foi considerado caro para Cuiabá e, no corre-corre das eleições outubro 2010, inauguraram o famoso asfalto abaixa-poeira.
A estrada dupla virou a estrada do pó (poeira).
O Portão do Inferno, após a queda de um caminhão, perdeu parte do seu murinho de proteção e não tem nenhum funcionário para orientar os turistas.
A Salgadeira e o Véu de Noiva, interditados.
Para se chegar ao Pantanal, o melhor é o teco-teco. Evita os buracos das estradas e as perigosas pontes de madeira.
Enfim, até a Copa esses pontos turísticos estarão todos preparados, inclusive com o pessoal voluntário falando vários idiomas.
Cuiabá precisa de algumas melhorias, como aeroporto, mobilidade urbana, aumento da rede hoteleira e de restaurantes, revitalização da nossa vida cultural, além das calçadas para evitar sérios acidentes com os nossos convidados.
Não possuímos retaguarda de serviços médicos para suportar um evento dessa grandiosidade.
São Paulo, que é uma cidade onde dizem que não haverá Copa do Mundo, está chamando a atenção do Brasil para o "turismo de saúde".
Esse tipo de turismo, é bom nem se pensar por aqui.
Traz mais divisas que o ecoturismo, razão pela qual, nove hospitais da capital paulista estão investindo, até 2014, ano da Copa, cerca de R$ 2,5 bilhões no incremento da infraestrutura do setor.
Em compensação, chegam a São Paulo, anualmente, 900 mil pacientes, dos quais, 50 mil são estrangeiros, segundo a consultoria Deloitte.
Sérgio Lopez Bento, superintendente-geral de operações do Hospital Samaritano, afirma que os hospitais de São Paulo não devem nada aos principais centros médicos do mundo.
Para quem mora no Exterior, o fator de atração que oferecemos é o custo competitivo de uma medicina eficiente, em relação ao valor cobrado pela medicina privada em outros países.
"Uma cirurgia cardíaca que custa cerca de US$ 300 mil nos Estados Unidos, não passa de US$ 90 mil em São Paulo", afirma André Osmo, superintendente comercial e de marketing do Hospital Sírio-Libanês.
Para quem vive em países como Canadá e Reino Unido, onde a medicina é totalmente pública, a dificuldade são as longas filas para conseguir o atendimento.
Quem habita o interior do Brasil, procura o turismo de saúde. Mesmo com excelentes médicos no interior, os governos não lhes oferecem condições de trabalho.
Os nossos políticos sabem que, quando precisarem, vão a São Paulo com as despesas pagas pela viúva.
O número de pacientes estrangeiros tem aumentado, e muito, afirma Paulo Bastian, superintendente operacional do Oswaldo Cruz (SP).
Eventos como a Fórmula 1 na cidade obrigam dirigentes e membros da equipe, a marcarem hemodiálises e consultas especializadas em São Paulo.
Outros integrantes do circo da F-1 aproveitam para tratamento e, principalmente, realização de cirurgias plásticas.
Mariana Palha está criando uma ONG para fomentar o turismo médico, pois esses pacientes representam cerca de 18% do movimento internacional nos hotéis.
Com a proximidade da Copa em Cuiabá e o ecoturismo em dificuldades, será que o governo do Estado fará investimentos na área do Turismo de Saúde?
GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT