G1
Futebol como protesto. Foi com o esporte mais querido entre os brasileiros que os Xavantes de Mato Grosso reivindicaram uma melhor qualidade de vida nas aldeias do estado durante a realização da 1ª edição dos Jogos Municipais Indígenas de Campinápolis, cidade localizada a 565 Km de Cuiabá.
O município, rodeado por aldeias xavantes, viveu um drama em 2011. Por lá, uma dezena de crianças indígenas morreram por desnutrição. As aldeias passaram por uma intervenção da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
Segundo o relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, 35 crianças morreram vítimas de desnutrição, infecção respiratória, diabete e pneumonia na região de Campinápolis. Na ocasião, Mato Grosso apresentou a situação mais crítica do país e o governo do estado chegou a decretar situação de emergência no município por causa do alto índice de mortalidade infantil entre os índios.
A organizadora dos jogos, Samira Tsibodowapre, também conhecida como Samira Xavante, teve a ideia de reunir todo o povo de sua etnia para competir e, ao mesmo, chamar a atenção para os problemas da região.
- A ideia da competição partiu da gente ver no município a difícil situação do povo xavante. O índice de alcoolismo entre os índios xavantes é muito alto e queremos amenizar esse problema. Porque o esporte todo mundo pratica. Ele reúne as pessoas. Além disso, a ideia quer levar a cultura do povo xavante para a população, pensando nisso idealizei a feira [cultural] em conjunto com os jogos – explicou Samira.
Neste final de semana, os xavantes de 68 aldeias da região disputaram corrida de 100m, arco e flecha, luta corporal, corrida de toras de buriti e o futebol. Os jogos uniram os indígenas que não querem mais ver seus filhos morrerem antes mesmo de completar um ano de vida.
- Com os jogos queremos solucionar alguns problemas vividos aqui. A questão do esporte ajuda a chamar atenção para os índios. É difícil a situação desse povo aqui dentro. Queremos conscientizar o próprio xavante para eles se cuidarem. Estamos realizando palestras sobre saúde. Nós queremos reverter essa situação [mortalidade infantil] com o esporte – enfatizou a jovem.
Para o conselheiro tribal da aldeia São Pedro e vereador em Campinápolis, Jeremias Xavante, de 51 anos, o problema de mortalidade infantil ainda não está resolvido na etnia. Segundo ele, nesta última quarta-feira, mais um criança morreu vítima de desnutrição. Jeremias pontuou ainda que existe uma revolta por parte dos indígenas em virtude do problema. No entanto, ele pontua que ainda falta organização por parte dos próprios xavantes.
- É um problema que envolve as autoridades que lidam com isso, ainda tem a ver nossa revolta por não resolverem essa situação. Isso é uma questão dos índios se organizarem e lutarem. Mas vejo uma evolução neste problema. Melhorou muito. Os índios demonstraram motivação e alegria com a ideia dos jogos – disse ao GLOBOESPORTE.COM.