G1/RJ
O homem que fez um ajudante de padre refém durante missa na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, Zona Sul do Rio, se entregou na noite deste domingo (17) por volta de 19h (veja no vídeo ao lado). O sequestro começou aproximadamente às 16h30 no altar do santuário, que fica nas esquinas das ruas Visconde de Pirajá e Joana Angélica, após a fuga de um assalto a uma drogaria, a dois quarteirões dali. O refém era Eduardo Amaral, ministro da eucaristia da paróquia, que passa bem.
Antes de ir à delegacia, o religioso falou rapidamente com a imprensa sobre os momentos em que passou com o sequestrador. "Só pedia a Deus, agradecia a Deus pelo dom da vida. E pedia muito pela minha vida e pela vida dele", relatou Amaral.
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O responsável pelo sequestro é Carlos Alberto de Souza Júnior, de 35 anos, segundo a Polícia Civil. Ele, que não tem antecedentes criminiais, seria morador da comunidade do Cantagalo e teria problemas psicológicos, segundo familiares. O caso foi encaminhado para a 14ª DP (Leblon). Carlos Alberto vai pernoitar no local e, na segunda-feira, seguirá para o Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste. Ele vai responder por roubo qualificado, tentativa de homicídio e sequestro.
A invasão ao templo aconteceu instantes após o roubo de uma drogaria, na altura da Rua Garcia D'Ávila. Clientes de um restaurante próximo ao local se desesperaram e se jogaram no chão. Na fuga, um dos criminosos trocou tiros com um PM que percebeu a movimentação. Eles tentaram fugir, rendendo um taxista. O motorista Pedro Eduardo Gomes de Mesquita, de 51 anos, reagiu. Ele disse que viveu momentos de tensão. "Ele bateu na porta do carro, eu pensei que era para pedir informação e abri o vidro e ele apontou a arma", disse o taxista.
Ato contínuo, o motorista do táxi agarrou o revólver, que foi puxado pelo autor do sequestro. O dedo do motorista ficou preso e sofreu um corte. Ele foi levado ao Hospital Municipal Miguel Couto, mas já teve alta após receber dez pontos na mão direita.
Sem conseguir fugir, Carlos Alberto correu armado para a igreja, onde a missa das 16h30 era realizada, enquanto o comparsa fugiu. Houve correria, mas as outras pessoas conseguiram deixar o local da missa.
Delegada estava na igreja
Valéria Aragão, titular da Delegacia de Combate aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DCPIM), estava entre as fiéis que foram surpreendidas na igreja. Em conversa com agentes, ela ouviu relatos de que o pai do jovem e a irmã estavam no local e poderiam ser utilizados na negociação. Os familiares contaram que o jovem faz tratamento contra esquizofrenia há mais de 10 anos e faz uso de bebida alcoólica.
Ele é apontado pelos parentes como uma pessoa agressiva, apesar de não ter antecedentes criminais. Durante a ação, Carlos Alberto repetia que o comparsa teria sido morto e, por isso, pediu a presença de jornalistas na igreja para que sua integridade física fosse preservada. "Tudo foi pensado e feito para que transcorrese da maneira mais segura possível", minimizou a delegada.
'Ele teve um surto', diz vizinha
O pai do sequestrador, que também tem o nome Carlos Alberto de Souza, tem 59 anos e é comerciante. Ele contou que o filho estava perturbado nos últimos dias à espera de um celular que receberia de um amigo. "Ele dizia que um amigo dele que mora na Europa mandou um celular pra ele que foi desviado nos Correios. Ele não parava de repetir isso e dizia que se fosse lá [nos Correios] iria fazer besteira", disse.
O pai foi à delegacia acompanhado de uma vizinha, que se identificou como Deize Carvalho, 43. Ela levou uma embalagem com diversos medicamentos que Carlos Alberto Júnior faria uso. "Ele teve um surto hoje e fez algo que ninguém nunca imaginou que ele pudesse fazer. Pegou todo mundo de surpresa", afirmou.
'Houve um certo desespero'
A confusão na Igreja ocorreu durante a missa. A jornalista Eva Barros, de 75 anos, contou que estava sentada na frente do altar quando o padre foi rendido. "Eu vi ele [o autor do sequestro] passar com a arma na mão em direção ao altar e o padre levantou as mãos para o alto. O rapaz encostou a arma na cintura dele [do padre] e o levou para trás do altar. Depois, largou o padre e pegou o ministro da eucaristia", contou.
Segundo Eva, os primeiros policias entraram na igreja segundos depois do homem armado. "Os policiais começaram a gritar para ele jogar a arma no chão. Depois começaram a mandar todo mundo sair", disse a idosa. Após a retirada dos policiais da patrulha, agentes especializados da Polícia Civil e do Bope comandaram a situação.
Morador fotografa vítima e refém
O engenheiro José Conde, de 54 anos, é morador do bairro e registrou a imagem (veja no início da reportagem) que mostra a vítima e o refém. Ele viu a confusão pela janela e desceu para conferir o que acontecia. "Quando cheguei lá, os PMs pareciam estar sem saber o que fazer. Perguntei: 'onde estão os caras?' Eles falaram: 'Lá no fundo'. Entrei um pouco na igreja, fiz o zoom e tirei a foto. Logo depois, os PMs me pediram para sair", relatou.
Agentes do Core (Coordenação de Recursos Especiais) da Polícia Civil e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar participavam da operação. Clientes de um restaurante próximo ao local assaltado chegaram a se jogar no chão.
Cardeal pede paz
Em viagem a Bogotá, na Colômbia, o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, mandou uma mensagem aos fiéis sobre a ocorrência na Paróquia, enquanto o ministro era mantido refém. "Daqui de Bogotá suplico a Divina Misericórdia que tenham paz".
Pouco antes das 20h, apesar de toda a tensão após o sequestro, dezenas de fiéis já se reuniam nas cadeiras da Igreja Nossa Senhora da Paz para a próxima missa.