GABRIEL NOVIS NEVES
Certa ocasião, durante uma viagem, pedi à aeromoça um pedaço de papel. Gostaria de escrever sobre um fato que acabara de presenciar a dez mil metros de altura.
Ela me respondeu se guardanapo servia. Respondi que sim, e recebi um pacote deles.
Papel fininho. Escrevi com todo o cuidado para aproveitar aquela oportunidade, antes que o natural esquecimento esvaziasse o consciente e enviasse aquelas informações para o arquivo do inconsciente.
Afoitamente iniciei a escrever, com todo o cuidado que a situação exigia.
No seu retorno com o carrinho de coisas - verdadeiro mercado ambulante dos longos corredores dos modernos aviões, ela me perguntou se precisava de mais "munição".
Expliquei-lhe que tinha observado tanta coisa curiosa e que aceitaria o reforço oferecido.
Ela sorriu, abrindo a possibilidade que eu pretendia: conhecer alguns fatos repetitivos nos voos e que incomodavam a tripulação de bordo que atende ao público durante as viagens.
Pedi então que ela me contasse um fato que a incomodava.
Ela falou que “tem muita gente que pensa que piso do corredor de avião é esterilizado. Impressionante como deixam os seus bebês engatinhar no carpete contaminado que forra a longa avenida dos modernos intercontinentais”.
Tenho vontade de informar às famílias que assim procedem que, o mais pesado que o ar percorre, em questão de horas, o planeta Terra, trazendo com ele bactérias e vírus até então desconhecidos para nós.
O mais grave é que esses organismos, só vistos ao microscópio de grande resolutividade, sofrem inúmeras mutações produzindo, inclusive, doenças desconhecidas à ciência.
O povo chama essas patologias desconhecidas como a "doença do avião".
As criancinhas, alegres com a novidade da brincadeira, ficam com as mãozinhas, corpo e vestuário imundos da sujeira perigosa.
E, mesmo assim, os pais lhes oferecem guloseimas que são agarradas com as mãos perigosas dos seus rebentos.
Como faz falta a educação voltada para a vida!
Muitas vezes essas viagens são programadas para países desenvolvidos para, desde cedo, mostrarem às crianças outras culturas.
Entretanto, os pais se esquecem dos fundamentos da educação, que é aprendida em casa, e que começa com as noções básicas de higiene, dentre elas: lavar as mãos antes de qualquer refeição.
O grande filósofo Eduardo Portela - aquele intelectual que foi convidado a fazer a abertura da educação do regime de exceção para a democracia e que marcou a sua presença ao dizer que estava ministro - muito bem definiu o tipo de educação tão em moda atualmente - a “Educação ornamental e ociosa".
Precisamos de muita educação voltada para a vida das pessoas. Só esta produz a ascensão social.
Pais! Cuidem dos seus filhos. Não os preparem para terem na sala de visitas um diploma de decoração.