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Cuiabá, 21 de Fevereiro de 2025
21 de Fevereiro de 2025

20 de Fevereiro de 2025, 14h:23 - A | A

OPINIÃO / CAIUBI KUHN

Falso alertas de terremotos do google

CAIUBI KUHN



Na sexta-feira, dia 14 de fevereiro, o Google disparou para os usuários do sistema operacional Android um falso alerta de terremoto no mar próximo a Ubatuba (SP). O fato causou preocupação e pânico na população. O alerta, porém, era falso. Mas, afinal, é possível prever terremotos? Como são analisadas as intensidades e localizações dos terremotos no planeta?

Os terremotos são resultado das movimentações tectônicas da Terra e, embora diversos modelos tenham sido propostos ao longo do tempo por aqueles que afirmam ser possível prever esses eventos, até hoje nenhum deles se mostrou sólido e confiável. Dessa forma, considera-se que ainda é impossível prever exatamente onde um terremoto ocorrerá e qual será sua magnitude.

As movimentações tectônicas ocorrem em um amplo campo de tensão que envolve todas as placas tectônicas. Em algumas regiões do planeta, esses esforços são convergentes, ou seja, quando uma placa colide com outra. Em outros locais, as placas possuem limites divergentes, caracterizados pelo afastamento entre elas. Também existem placas que se movem de forma transcorrente, isto é, deslizando lateralmente uma em relação à outra. Esse complexo campo de tensões é o principal fator responsável pelo desenvolvimento dos terremotos. Quando ocorrem no fundo do mar, os terremotos podem ainda gerar tsunamis — ondas gigantes provocadas pela movimentação tectônica, que já causaram grandes desastres ao longo da história, resultando na morte de milhares de pessoas.

O monitoramento de terremotos no mundo é feito por uma rede de sismógrafos instalados em diversas instituições e países. No Brasil a Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), composta por quatro instituições nacionais com grande experiência em sismologia (USP, UnB, UFRN e Observatório Nacional), que operam mais de 90 estações sismológicas espalhadas pelo país e realiza os registros dos terremotos. Esses equipamentos, por meio da análise da intensidade das ondas sísmicas e do momento em que elas chegam a cada aparelho, considerando a distância entre as estações, conseguem determinar a localização, a intensidade e a profundidade dos terremotos.

Diferentemente de países como Japão e Chile, onde os terremotos ocorrem com frequência e alta intensidade devido ao posicionamento próximo às bordas das placas tectônicas, no Brasil, os terremotos tendem a ser de menor magnitude, geralmente relacionados a pequenas movimentações geológicas no interior da placa tectônica. Apesar disso, já foram registrados no país alguns raros terremotos que superaram 6 graus na escala Richter, enquanto no Chile e no Japão os sismos podem ultrapassar 9 graus. Cada grau na escala Richter representa um aumento de energia liberada em 10 vezes, o que significa que um terremoto de magnitude 9 é 1000 vezes mais forte que um de magnitude 6.

O falso alerta emitido pelo Google é motivo de preocupação e evidencia o impacto que informações não oficiais podem causar quando divulgadas por grandes empresas de tecnologia. As redes sociais, aplicativos e funcionalidades presentes em celulares e outros dispositivos eletrônicos podem auxiliar significativamente na disseminação de informações relevantes para a população. No entanto, alertas falsos ou imprecisos podem gerar sérios impactos, incluindo pânico e caos.

Embora o Brasil ainda precise ampliar suas estruturas de alerta e análises de desastres, o país conta com instituições capacitadas para fornecer informações com validação técnica e científica sobre diversos temas, e os dados fornecidos por essas instituições precisam ser a fonte de informação para emitir alertas para população. Um alerta de desastre é um tema sério e deve sempre levar em consideração dados oficiais e com validade técnica e cientifica.

Caiubi Kuhn
Geólogo, Doutor cotutela em Geociência e Meio Ambiente (UNESP) e Environmental Sciences (Universidade de Tubingen), Professor na UFMT, Presidente da Federação Brasileira de Geólogos (FEBRAGEO)

 

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