Saída de Moro é boa para Bolsonaro; só militares fariam governo cair

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Professor destaca necessidade do governo tem uma assessoria forte

DA REDAÇÃO

Especialista em estratégia geopolítica, o professor Luiz Antônio Peixoto Valle afirma que a saída do ministro da Justiça, Sérgio Moro, é positiva para o governo do presidente da República, Jair Bolsonaro, e que o único de risco de ocorrer um impeachment é se houver a perda do apoio das Forças Armadas. Ele afirma que o erro iniciou com a nomeação de Moro, continuou no momento que foi dada carta branca ao novo ministro e terminou com a forma que ele saiu. Mesmo assim, garante que é o ex-juiz e agora ex-ministro que manchou sua biografia.

“O que me preocupa agora são os reflexos internos desta questão. O apoio das Forças Armadas e o apoio do povo. Enquanto Bolsonaro tiver o apoio das Forças Armadas e apoio do povo, mesmo que seja uma parcela do povo, mas que seja aguerrida, militante, que vai às ruas e protesta, não tem impeachment, renúncia, queda de governo. Não existe queda de governo se tem apoio das Forças Armadas e apoio do povo. Exceto se as Forças Armadas se afastarem dele. Daí seria, do ponto estratégico, muito pior do que o que tem acontecido”.

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Luiz Antônio enfatiza que todo efeito teve uma causa. Começando pela nomeação do ex-juiz federal como Ministro da Justiça, afirma que foi uma sequência de erros. Primeiro cita que Moro tem um perfil e ideias diferentes de Bolsonaro.

“As pessoas que conhecem o perfil do Moro, já conheciam mais sobre ele, sabem que ele não tinha as mesmas ideias do Bolsonaro. Sabiam que Moro era um cara desarmamentista, que ele tem uma certa convergência com ideias globalistas, como o aborto. Ele não tinha o perfil de ideias para estar no governo Bolsonaro. A análise do perfil foi equivocada na escolha”.

Depois, o professor afirma que o erro continuou no momento que foi dada carta branca ao ministro. “Não existe carta branca para subordinado. Subordinado não pode ter carta branca, senão ele não é seu subordinado. Se ele pode fazer o que ele quer, ele não é seu subordinado, ele é igual a você ou até superior. A questão da carta branca foi outro equívoco”.

Por fim, enfatiza que Moro já tinha “um ativo muito grande e tinha luz própria”. “Na época da eleição do Bolsonaro ele já era um ídolo, era considerado uma pessoa qualitativamente em pé de igualdade com Bolsonaro. Então, essas três características, divergências de ideias, carta branca para agir e um ativo, uma credibilidade muito grande, tornaram ele uma pessoa impossível de ser subordinada, impossível de ser dirigida”.

Ele afira que o equívoco começou na nomeação e, “quando se começa errado, claro que a evolução também não pode ser boa”. “Vimos uma série de eventos que o Bolsonaro discordou dele (Moto), onde ele não atendia os pedidos do Bolsonaro, e Bolsonaro foi fritando, soltando coisas devargazinho.  Neste aspecto, o presidente precisa mudar esta postura, porque essas frituras geram crises, pequenas, mas constantes e isso causa um desgaste”.

Quanto à saída de Moro, o especialista garante que foi boa par o governo. “Ruim, se é que se pode dizer assim, foi a forma. Ele (Moro) saiu atirando de uma forma deselegante, com argumentos fracos, dá uma sensação de traição porque ele está ferindo o presidente num momento que o presidente estava muito vulnerável, então aquela sensação de traição, de deslealdade. Aquele vazamento dos prints do whatsapp dele que teve no Jornal Nacional, aquilo foi péssimo pra ele Moro. Ali ele mostrou um aspecto de personalidade que ele não tinha mostrado antes. Todos viam ele como uma pessoa discreta, ponderada”.

O professor afirma que o ex-ministro revelou um traço de personalidade que as pessoas não conheciam e, ao mesmo tempo, “ele manchou a biografia dele que ele considerava tão importante”. “O governo precisa saber fazer da crise uma oportunidade”.

Quanto às consequências, Luiz Antônio enfatiza que Bolsonaro foi eleito sem o Moro, que o ex-ministro não participou da campanha, não trouxe votos. “Então, o Bolsonaro teve um ativo eleitoral para o qual Moro não contribuiu. A repercussão que está tendo na mídia, sabemos que o povo esquece e a mídia também. Vou dar um exemplo, o Mandetta (ex-ministro da Saúde  Luiz Henrique Mandetta) saiu foi um caos, 10 dias depois já não se falava mais em Mandetta. Da mesma forma o Moro, daqui 10 ou 15 dias ninguém mais vai estar falando disso, já surgiram outras manchetes, isso vai cair no esquecimento e não é isso que me preocupa”.

O professor é enfático quanto a necessidade do presidente da República ter uma assessoria preparada para gerenciamento de crises. “Bolsonaro é o Bolsonaro. Essa forma dele se portar tem um lado não muito bom porque gera muitas crises, mas tem o lado das pessoas verem como uma pessoa transparente, honesta. O que precisa ter é uma assessoria forte, bem estruturada e com visão estratégica, que faça contenção e mitigação de risco, gerenciamento de danos. As tempestades virão. A noite sucede o dia, só que as pessoas precisam estar preparadas. A diferença das pessoas que são pegas de surpresa por uma tempestade e quem não foi, é aquele que olhou, viu e se preparou para isso, se antecipou aos acontecimentos”.

Se não ocorrer o planejamento estratégico, o especialista aponta o risco do “bloqueio de percepção do todo”. “É uma técnica utilizada pelas agências de inteligência a nível mundial para bloquear a percepção de um governo  ou de um grupo de pessoas para que elas sejam pegas de surpresa pelas crises. Não tem que estar preocupado com Maia, Doria, Witzel, Alcolumbre, STF, no sentido mais decisivo, porque estes aí são só peões usados pelos autores do Cheque Mate Global. Devem ser tratados, anulados, claro. Deve  ter estratégia para lidar com eles, claro. Mas ele (presidente) deve ter uma visão , e não noto isso nele, na assessoria e nem nos filhos dele, mas é preciso ter uma visão do Cheque Mate Global que é uma coisa muito mais profunda. São pessoas de um poder econômico desproporcional”.

O professor cita como absurda a ligação do Brasil com a China. “A China está fazendo o que no Brasil e a China é um dos autores do Cheque Mate Global. Agora tem até frente parlamentar Brasil China. Coisas absurdas, mas por falta de visão estratégica do governo de quem está por trás disso”.

“Aquele que olha para as nuvens, vê nuvens negras e dá de ombro, ou não sabe perceber esses sinais, vai ser pego de surpresa. E o que acontece é que o governo fica se desgastando com crises constantes. Toda hora tem uma crise. Isso vai drenando a energia”.

O professor enfatiza que é hora, mais do que nunca, de apoiar o governo e uma mudança seria a pior opção neste momento. “Não é hora de ninguém deixar de apoiar o governo, muito pelo contrário, agora é hora de apoiar esse governo fortemente, porque a queda deste governo causaria um transtorno, um caos, muito maior para o país. Não importa porque motivos, mas é hora de apoiar o governo, de dar sustentabilidade a este governo, que ele consiga passar por esse momento, que ele consiga trabalhar sem ficar administrando crises quase que diárias, pois ninguém consegue viver assim. Tem que ter um plano de atuação estratégica para suprimir ou anular essas crises que são normais e focar no que é mais importante, para que ele sobreviva e chegue lá. É hora de unir forças em torno do governo, de esclarecer pessoas do governo de aspectos estratégicos que elas não veem porque são vítimas deste bloqueio de percepção do todo”.