facebook-icon-color.png instagram-icon-color.png twitter-icon-color.png youtube-icon-color.png tiktok-icon-color.png
Cuiabá, 27 de Novembro de 2024
27 de Novembro de 2024

05 de Setembro de 2020, 07h:45 - A | A

ENTREVISTA / INVESTIGAÇÃO CASO ISABELE

Advogado: Prefiro achar que a Delegacia de Homicídios foi só incompetente

Hélio Nishiyama afirma que se delegado tivesse feito a apreensão e prisão de todos os supostos envolvidos no dia do crime, poderia ter chegado mais perto do que efetivamente aconteceu

ANDRÉIA FONTES
DA REDAÇÃO



Advogado Hélio Nishiyama, que representa a família de Isabele Guimarães Ramos, de 14 anos, destaca que os “equívocos” cometidos pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) no dia da morte da adolescente e na semana seguinte não causaram prejuízos para o resultado final, que foi o indiciamento de B.O.C. por homicídio doloso e do pai dela, o empresário Marcelo Cestari, por homicídio culposo, posse ilegal de arma, fraude processual e por entregar arma a menor.

Lembra que as ações do delegado Olímpio da Cunha Fernandes (DHPP) e dos policiais civis e um militar, amigos do empresário Cestari, que estiveram na cena do crime, já são investigadas pela Corregedoria.

"Se tivesse feito a apreensão de todos naquele momento chegaríamos mais próximo do que efetivamente aconteceu", Hélio Nishiyama sobre o dia do crime

Avalia que no dia da morte todos os supostos envolvidos tinham que ter sido presos e apreendidos, inclusive os irmãos da adolescente que disparou e o namorado que levou a arma, para não terem tempo de definirem uma história, possibilitando chegar mais perto da verdade.

Quanto às influências do empresário, o advogado afirma que prefere acreditar que a Delegacia de Homicídios foi “apenas incompentente e ineficiente” ao não realizar a prisão. 

Leia trechos da entrevista

- A família da Isabele já denunciou ao Ministério Público as ações do primeiro delegado a atender o caso e a presença de policiais à paisana no local do crime. O trabalho inicial da Polícia Civil atrapalhou as investigações?

Advogado Hélio Nishiyama - A meu ver, os equívocos, que já são objeto de investigação na Corregedoria, eu não digo que causaram prejuízos insanáveis. Nada que a Delegacia de Homicídio não fez naquele momento deixou de ser feito depois pelas outras delegacias. Mas não tenho dúvida em falar que aqueles equívocos da Delegacia de Homicídios geraram trabalho para a polícia. Por exemplo, a apreensão das imagens das câmeras de segurança. Eu pedi para o delegado apreender, ali havia uma situação de flagrante, bastava ele apreender. Ele respondeu que não ia apreender porque ao ver dele aquilo era irrelevante, porque só captava imagens externas. Trocado de delegado, a primeira providência foi apreender as imagens. Mas com um detalhe, ele não podia mais ir à casa do empresário e apreender. Ele teve que demandar o judiciário para produzir uma prova que deveria ter sido produzida naquela noite pela Delegacia de Homicídio.

- Alguma prova acabou prejudicada?

Hélio Nishiyama - Acho que não. Acho, e aí não é mais um dado objetivo, dentro da expertise em direito penal, a gente enxerga, o auto de prisão em flagrante, aquele que é efetuado no momento, ele traz muitas vezes um benefício acentuado para a investigação porque não dá tempo das pessoas combinarem versões. Acho que se o delegado tivesse feito a apreensão e a prisão em flagrante de todos naquele momento, todos, estou falando dos adolescentes, não só da que efetuou o disparo, mas também do que levou a arma de fogo, do pai e dono da casa, se tivesse feito a apreensão de todos naquele momento chegaríamos mais próximo do que efetivamente aconteceu. Esse é um ganho que a prisão em flagrante dá para a investigação, porque depois, uma semana depois, 10 dias depois, quando começaram a ser produzidos os depoimentos, muita coisa veio combinadinha. É necessariamente mentira? Não, mas fica a dúvida.

- A influência do empresário Marcelo Cestari no meio policial e o poder econômico influenciaram para que este flagrante não fosse realizado?

Hélio Nishiyama - É difícil responde isso. Eu não tenho ainda nenhum dado concreto para falar que houve qualquer situação financeira envolvendo a polícia. Eu não sei. O que acho realmente é que ele tem suas relações, policiais amigos chegaram antes da polícia oficial, isso é uma demonstração de teias de relacionamento. 

"Agora se isso foi o fator determinante para a Delegacia de Homicídios não fazer a prisão em flagrante, tem que fechar a DHPP", Nishiyama sobre o poder econômico do empresário Cestari.

Fecha, porque a gente não pode ter uma polícia que só combate o crime praticado pelo pobre. Como cidadão, prefiro achar que a Delegacia de Homicídios só foi incompetente, ineficiente. Ainda prefiro achar isso a achar que a polícia se sentiu intimidada pelo poder financeiro, se sentiu intimidada pelos amigos policiais, porque daí é o caso realmente de fechar a delegacia.

- A família Cestari pediu o afastamento do promotor Regenold do caso após uma reportagem publicada pela revista Época. Como o senhor avalia esta situação? O promotor agiu de forma ilegal?

Hélio Nishiyama - Não posso falar por ele. Não vi o conteúdo desta representação (contra o promotor), acompanhei pela mídia. Não consigo falar. Acho que o Ministério Público tem grandeza suficiente de falar sobre essa questão. A única ponderação que faço e tenho feito é que me parece que o promotor está sendo atacado e o ataque tem como finalidade intimidar a atuação do Ministério Público. Me parece. O ataque seria porque o promotor falou que havia indícios de crime doloso. Está aí o relatório da polícia apontando que houve (homicídio doloso). Meu palpite é que estão tentando intimidar o Ministério Público. E convenhamos, eu nunca vi o Ministério Público ser intimidado, nem grandes personagens, políticos, empresários, conseguiram acovardar o Ministério Público. Não que seja um instituição perfeita, mas goza constitucionalmente de autonomia técnica profissional.

- O senhor já atuou em muitos casos de júri popular, tem muitos clientes acusados de crime de colarinho branco. Há alguma diferença em atuar neste caso ou é basicamente seguir a lei?

"Quando você está atuando num crime como este tem que ter um cuidado redobrado para que não esteja trabalhando num caso Isabele, porque a Isabele não é um caso, é uma vida", Hélio Nishiyama.

Hélio Nishiyama - Não dá para falar que é um processo normal, porque daí é hipocrisia. O fato de se tratar de um crime violento, com uma vítima, gera uma preocupação muito maior. É diferente de quando você está trabalhando em um caso de corrupção, de tráfico, não que não sejam graves, mas você não tem uma vítima determinada, não tem o sofrimento envolvido. Quando a gente vai para os crimes violentos, a carga emocional que o advogado tem que filtrar ela é absolutamente maior do que um crime de colarinho branco, porque existe uma mãe que está sofrendo, tios que estão sofrendo, todo um núcleo familiar que sofre. A advocacia passa por um momento semelhante ao que passou e está passando a medicina, que é a humanização. Quando você está atuando num crime como este tem que ter um cuidado redobrado para que não esteja trabalhando num caso Isabele, porque a Isabele não é um caso, é uma vida. Sou o que estou mais próximo do sofrimento da família, mais próximo do que você (jornalistas), que os promotores, que os juízes. É diferente, exige do profissional uma postura mais sensível ao sofrimento. Houve uma repercussão, arrisco dizer nunca vista em Mato Grosso. Rompeu os limites do Estado, teve repercussão nacional. Sem dúvida todas estas circunstâncias fazem que seja um caso atípico.

 

Leia a primeira parte da entrevista

Advogado aponta que primeira versão da morte de Isabele foi suicídio

>>> Clique aqui e receba notícias de MT na palma da sua mão

Comente esta notícia

Paulo 05/09/2020

Há expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas. Queira, por gentileza, refazer o seu comentário

positivo
0
negativo
0

Maria 05/09/2020

Verdade, essa "incompetência " deu tempo à família da atiradora para receber orientação dos investigadores amigos e de advogado para criar narrativa dos fatos de forma a prejudicar e dificultar as investigações. Não precisa nem ser da área jurídica para ter certeza que a verdade teria sido revelada pela atiradora se esta tivesse sido levada - como qq um, menor ou maior de idade envolvido em crime de lesão - para prestar depoimento na noite do ocorrido. Os atos dos policiais que agiram como seguranças da família e a benevolência bizarra e contra legis do delegado fez toda a diferença - negativa - no IP.

positivo
0
negativo
0

2 comentários