MÁRIO ANDREAZZA
DA REDAÇÃO
A morte do bebê de apenas 1 ano e 6 meses, causada pelo ataque de um dos cachorros da família, da raça chow-chow, dentro de casa, em Lucas do Rio Verde (354 km da Capital), causou pânico em famílias que têm esses cães como animal de estimação, que convivem com crianças pequenas.
A culpa é do cachorro? O que pode levar o cão a ter esse comportamento? O buscou esclarecer essas e outras perguntas com especialista. Veja abaixo.
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Chow-chow é um cão muito admirado por diversos motivos, seja pela pelagem armada, que lembra a aparência de leão, ou ainda pela postura imponente, além da inconfundível língua azul.
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Essa raça seria uma das mais antigas, com pesquisas que apontam o ‘surgimento’ há mais de 2 mil anos na China. No ocidente teria chegado apenas no final do século XVIII.
Pesquisas ainda apontam que o chow-chow era usado como cão de guarda, caça e até mesmo para puxar carruagens.
Hoje é uma das raças mais populares em meios domésticos, porém, cercada de achismos sobre seu comportamento, por muitos considerada agressiva, temperamental e ciumenta.
O conversou com Ana Paula Tavares Frey, bióloga comportamentalista, adestradora e sócia fundadora da Empresa SouDog, atuante na área de comportamento animal há mais 12 anos, para tentar entender o que pode ter motivado esse ataque que culminou com a morte da criança.
Ana também é autora da Obra: Ciências Biológicas para Adestradores.
Humanização dos cachorros
Logo de início a especialista explica as complicações que a ‘humanização’ dos cachorros podem trazer ao comportamento. Ou seja, o fato de nós, humanos, interpretarmos o comportamento do animal por sentimentos complexos, os quais os cães não têm capacidade de desenvolver, como por exemplo ciúmes, inveja, entre outros.
“Tudo aquilo que eu tenho medo, desconheço eu preciso decifrar para coabitar, então quando eu olho o comportamento de um cachorro eu preciso compreender aquele comportamento como sendo o mais próximo da minha realidade e fazer uma analogia ao meu comportamento, enquanto humano. É fácil olhar determinado comportamento do cachorro e determinar que se ‘ele fez isso’, então ‘está sentindo isso’, como eu, dono do animal, me sentiria na quela situação, mas na verdade isso não acontece, é uma fantasia. Isso é um erro e dá origem a inúmeros comportamentos inadequados”, explicou Ana.
Outro ponto destacado é o fato de apesar da raça, cada cachorro é um indivíduo único, ou seja, um cachorro nunca terá o comportamento idêntico ao outro. Possuem comportamentos diferentes de acordo com o nível de sensibilidade que cada cada um expressa em relação ao ambiente.
A especialista explicou que a genética corresponde a apenas 30% do comportamento dos animais, os outros 70% são adquiridos conforme o trato na criação e o aprendizado durante a vida. O ser-humano está incluído nessa perspectiva.
“Nem todo africano é corredor, embora os melhores maratonistas sejam da África. Nem todo japonês é expert em matemática e tecnologia, nem todo labrador vai ser cão-guia, embora sejam rotulados assim. Existe uma propensão genética a desenvolver alguns comportamentos da ligados aos extintos da raça, mas nem de longe isso vai fazer que o cachorro tenha o comportamento que a gente quer. Isso é tão verdade que nunca vamos encontra dono de canil que vai afirmar, com 100% de certeza, que o cão de determinada raça vai desenvolver o comportamento que eu procuro”.
Ana explicou que o ‘manejo’, o trato com o animal, a criação e o treinamento são o que podem garantir o comportamento desse animal, seja os ligados à genética ou outros que gostaríamos que ele desenvolvesse.
A ‘bola da vez’
Ana destaca que foram criados mitos que estigmatizaram determinadas raças, levando à uma possível diminuição drástica e até extinção destas. Ela lembrou do Doberman, muito popular na década de 90, por ser um cão de grande porte, forte, bonito e considerado de guarda, trazia segurança ter um animal desses em casa. Era muito comum ver essa raça em diversas residências, mas devido ao fato de acidentes recorrentes, foi considerado agressivo, perigoso e hoje quase não vemos mais essa raça para vender ou até mesmo nas casas de forma geral.
O mesmo aconteceu com o Pitbull, Rotwillers, muito populares nessa época e também estigmatizados como perigosos em decorrência de alguns acidentes.
Agora a ‘bola da vez’ é o Chow-chow, queridinho pela beleza singular que chama atenção de todos, e espalhado por diversas casas, porém, os acidentes têm feito com que também ganhe a fama de arisco, agressivo e perigoso.
A especialista afirma que esses acidentes não são uma particularidade dos Chow-chows, mas sim dos cachorros em geral que não são criados de acordo com as necessidades de sua raça e, consequentemente, de acordo com sua individualidade.
Ana ressaltou ainda que nós, que crescemos com cachorro em casa, temos a ideia de que sabemos criar ‘qualquer’ um, mas não é assim que funciona. Cada cão tem suas particularidades que precisam ser entendidas e respeitadas para que acidentes sejam evitados.
“Acidentes como esse, ou outros vários que já aconteceram com Chow-chows, Pitbulls, Rottweilers, assim como vira-latas e demais cães, inclusive de portes menores, não têm a ver com raças específicas, têm relação com o fato de as pessoas não saberem que cachorro tem manejo específico de acordo com a sua raça, e que é preciso o acompanhamento de um profissional comportamentalista para que não se tenha esse tipo de problema”.
Outro ponto destacado é a expressividade que reportagens como essa causam em relação a determinadas raças, que levam a acreditar que raças específicas são mais perigosas e agressivas que outras. Os quais Dobermans, Pitbulls, Rottweilers e agora o Chow-chow foram estigmatizados.
Veja os vídeos:
Tarcísio Filho 16/08/2021
Essa especialista entende do assunto, pra ela tiro o chapéu, competentíssima. Conheço a algum tempo, tenho um cão treinado por ela e o André, estou extremamente satisfeito com as orientações e a forma que tratam os assuntos relacionados aos nossos pets.
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