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Cuiabá, 29 de Junho de 2024
29 de Junho de 2024

26 de Junho de 2024, 14h:38 - A | A

OPINIÃO / MARIA TEZOLIN

Drogas: adoecimento é real e famílias precisam de amparo

MARIA TEZOLIN



Prática milenar, a busca pela satisfação e pelo prazer vem levando muitas pessoas cada vez mais cedo a buscar o mundo das drogas. O alcoolismo, assim como outras drogas ilícitas, está cada vez mais presente nos lares. Junho é vivenciado como junho branco de combate às drogas. Neste dia 26 de junho, Dia Internacional de Combate às Drogas pergunto: como está o olhar do Poder Público para essa doença, quando ela afeta toda a família?

Sabemos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) já declarou que a dependência química é uma doença e que, ao contrário do que se pensava antigamente, usuários não são pessoas que não têm vergonha e por isso vão procurar o álcool e outras drogas. São doentes que após ingerir a primeira dose, ou dar o primeiro trago, vão buscar cada vez mais e precisar de uma dose cada vez maior, para obter o mesmo prazer.

Dados de 2021 das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) mostram que 35 milhões de pessoas de todo o mundo sofrem transtornos resultantes do uso de drogas. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), em 2021, registrou 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool. A maior parte dos pacientes é do sexo masculino com idade de 25 a 29 anos.

Esses usuários precisam de tratamento. Embora insuficientes, temos políticas reparadoras, na Atenção Primária à Saúde (APS), uma rede de atendimento através de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e outros, temos políticas de reinserção, temos as comunidades terapêuticas, os grupos anônimos, mas eu quero hoje chamar a atenção para a necessidade de tratamento da família que está adoecida.

Sabemos que para cada pessoa que usa droga várias outras são afetadas ao seu redor, seja na sua casa, na parentela, na sua vizinhança e até nos ambientes de trabalho. O absenteísmo, que é quando as pessoas faltam ao trabalho - em sua maioria na segunda-feira - por ter usado droga, por ter bebido demais no final de semana, causa gastos ao empregador e sobrecargas aos colegas de trabalho.

E com relação às famílias eu chamo a atenção para as consideradas “doidas”, “as loucas” né? Muita gente diz: a mulher de fulano de tal, ou a mãe de fulano de tal é uma louca. Ela bate nas crianças, xinga, briga... Só que poucos percebem que essa mulher se transformou nesta chamada “louca” porque ela está convivendo com o problema da dependência química. Muitas vezes ela tinha o dinheiro economizado para pagar uma prestação na segunda-feira. Aí chega sábado e domingo o seu familiar que usa álcool e drogas vai pegar esse dinheirinho contado e gastar com bebidas ou outras substâncias. O único dinheiro da prestação que ela tinha que pagar na loja. Ela se desequilibra e se torna a péssima mulher ou mãe do fulano, esse fulano que em sua bebedeira, é legal, conversa fluente e é amigo de todos.

Diversas mulheres, mães, irmãs, tias... adoecendo, perdendo o equilíbrio por não conseguirem mais conviver com essa triste realidade. O consumo de álcool é responsável por 2,6 milhões de mortes todos os anos no mundo – 4,7% de todas as mortes no planeta. Já o uso de drogas psicoativas responde por 600 mil mortes anualmente, segundo dados da OMS. O Relatório Global sobre Álcool, Saúde e Tratamento de Transtornos por Uso de Substâncias, com números relativos ao ano de 2019, mostra que 2 milhões de mortes por consumo de álcool e 400 mil mortes por uso de drogas são registradas entre homens, sendo que a maior proporção (13%) de mortes atribuídas ao álcool, em 2019, foi registrada na faixa etária dos 20 aos 39 anos.

Outro aspecto importante é a violência também contra os idosos. Estamos vivenciando, também, o “Junho Violeta” de cuidados com os idosos e sabemos que muitos estão endividados porque precisam retirar da sua pequena aposentadoria, o dinheiro de comprar, de repor, muitas vezes continuadamente, o botijão de gás que o filho ou neto pegou para vender ou trocar por drogas.

A questão é séria! Falta ajuda do poder público para essas mães, para esses familiares. Sim, para os familiares porque também o inverso ocorre, embora ainda em menor escala, mulheres dependentes cujos maridos e filhos estão adoecendo, mas isso é tema para outro artigo!

Aqui chamo a atenção do Poder Público e da sociedade para a necessidade de inclusão da família não usuária, mas diretamente afetada, nos programas de apoio na área de dependência química. Esse aperfeiçoamento na política pública sobre drogas é importante para construirmos uma sociedade mais saudável e não igualitária, mas sim, com mais equidade.

*Maria Tezolin é Jornalista e Especialista em Dependência Química

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