MARIA AUGUSTA RIBEIRO
A internet trouxe uma série de inovações e oportunidades para a sociedade. No entanto, também escalou a segregação digital. A divisão que surge a partir da diferença de acesso e de capacidade para usar a tecnologia de maneira eficiente ainda é uma barreira difícil de superar no Brasil.
Mas o que é Segregação Digital?
A segregação digital refere-se à divisão entre aqueles que conseguem utilizar dispositivos eletrônicos e internet de maneira plena e aqueles que não possuem as mesmas condições.
Segundo a pesquisadora Jan Van Dijk (2020), essa segregação é causada não apenas pela falta de acesso, mas também pela falta de habilidade para usar dispositivos e plataformas, o que gera um distanciamento entre os que sabem e os que não sabem aproveitar a tecnologia.
Grupos de baixa renda, regiões afastadas e comunidades marginalizadas tendem a ter menor acesso a dispositivos e internet de qualidade, o que reforça o ciclo de exclusão e dificulta o desenvolvimento social e econômico.
Segundo estudos da Universidade de Harvard (2022), o uso de dispositivos de última geração se tornou um privilégio que separa aqueles que conseguem ter um acesso pleno à tecnologia daqueles que ficam à margem.
Além disso, não se trata apenas de possuir dispositivos, mas de saber usá-los de maneira eficiente. Isso requer habilidades digitais que muitos não têm a oportunidade de desenvolver.
O uso efetivo de dispositivos requer não apenas instruções básicas, como também conhecimento de como operar, navegar e até mesmo resolver problemas tecnológicos.
Muitas escolas em áreas desfavorecidas não têm a infraestrutura necessária para oferecer essa alfabetização digital do básico.
Em contrapartida, escolas com mais recursos conseguem fornecer dispositivos e internet de qualidade aos seus alunos, facilitando o desenvolvimento de habilidades digitais desde cedo.
Além do acesso físico aos dispositivos, a qualidade do aprendizado é significativamente impactada pelo tipo de tela que os alunos utilizam. Pesquisas da Universidade de Stanford (2021) mostraram que crianças que estudam em telas pequenas, como smartphones, têm uma experiência de aprendizado inferior àquelas que usam tablets ou computadores. Isso ocorre porque telas pequenas dificultam a visualização e a interação com o conteúdo, o que limita a retenção e o envolvimento dos alunos.
Essa segregação digital na educação gera um ciclo de exclusão, onde a falta de acesso ao manuseio básico de ferramentas compromete seu futuro acadêmico e profissional.
O que nos leva ao mercado de trabalho, onde essa segregação digital fica mais evidente. Com o aumento da automação as habilidades tecnológicas se tornaram indispensáveis. Contudo, a falta de acesso e domínio de ferramentas digitais limita a entrada e o crescimento de indivíduos que não tiveram uma base tecnológica sólida gerando menos oportunidades e salários menores.
Não estamos aqui estimulando o usos de telas na infância ou recomendando o acesso a tecnologia em demasia. Estamos seguindo os dados e constatando que para uma educação forte o pais precisa investir em aprendizado de qualidade para todos a fim que expandir habilidades de soft skill com o passar do tempo.
A alfabetização digital não envolve apenas o aprendizado das funções básicas dos dispositivos, mas o desenvolvimento de habilidades que permitam uma navegação segura, eficiente e estratégica no ambiente digital.
Essa alfabetização digital permite que pessoas de todas as idades e origens entendam e utilizem a tecnologia de forma eficiente. Sem isso, mesmo que haja dispositivos disponíveis, muitos usuários continuarão marginalizados, incapazes de utilizar as telas e plataformas para criar oportunidades reais de aprendizado e crescimento.
Muitos países estão implementando políticas para reduzir a segregação digital. A União Europeia, por exemplo, criou o programa “Internet para Todos”, que visa levar internet a áreas rurais e desassistidas.
No Brasil, o programa Banda Larga para Todos busca expandir o acesso à internet para regiões carentes. Além do acesso, iniciativas como a parceria entre o Google e a ONU têm trabalhado para oferecer programas de alfabetização digital para jovens e adultos em comunidades de baixa renda.
A falta de acesso a dispositivos de qualidade e a ausência de formação digital geram uma exclusão significativa, que compromete o desenvolvimento de crianças, jovens e adultos em todo o mundo.
Para construir uma sociedade mais inclusiva, é essencial que governos, empresas e organizações priorizem não apenas o acesso, mas também a capacitação digital. Só assim será possível quebrar as barreiras da segregação digital e criar um ambiente onde a tecnologia possa realmente ser uma força de inclusão e equidade.
Maria Augusta Ribeiro especialista em Netnografia e Comportamento Digital
@gutabelicosa