APARECIDO CARMO
DO REPÓRTERMT
Duas empresas criadas por um ex-assessor do Secretário de Política Agrícola no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Neri Geller (Progressistas), intermediaram a venda de 44% do arroz importado por meio de leilão realizado na semana passada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
As empresas são: Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e Foco Corretora de Grãos, ambas criadas em maio de 2023 por Robson Luiz de Almeida França, que trabalhou com Geller na Câmara dos Deputados entre 2019 e 2020. França também é sócio do filho de Neri Geller, Marcelo Piccini Geller, na empresa GF Business, criada em agosto de 2023 e voltada para o agronegócio.
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Enquanto esteve no gabinete de Geller na Câmara Federal, França atuou ao lado de Thiago dos Santos, atual diretor de Operações e Abastecimento da Conab e é responsável pela realização de leilões públicos. Thiago foi indicado para o cargo na Conab por Geller, depois de trabalharem juntos entre 2019 e 2023.
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As empresas participaram da negociação de 116 mil das 263,3 mil toneladas comercializadas no leilão, cujos arremates das suas clientes vão abocanhar R$ 580,1 milhões dos R$ 1,3 bilhão movimentados. A BMT e a Foco faturam comissões de corretagem em cima desses valores. Elas representaram três das quatro empresas arrematantes do leilão: ARS Locação de Veículos e Máquinas, Zafira Trading e Icefruit Indústria e Comércio de Alimentos.
Nenhuma das vencedoras possui experiência na cadeia do arroz, o que causou estranheza no mercado. A quarta empresa, que ficou responsável pela importação de 147,3 mil toneladas e que deve receber R$ 736 milhões da Conab, foi a Queijo Minas, uma loja de queijos e laticínios em Macapá (AP). A negociação foi feita pela Bolsa de Cereais e Mercadorias de Londrina (BCLM).
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O governo decidiu importar arroz do exterior para evitar especulações de preço depois das enchentes no Rio Grande do Sul, estado que concentra a maior parte da produção nacional. Os produtores não viram a iniciativa com bons olhos, já que eles garantiam que tinham condições de abastecer o mercado nacional.
Outro lado
Neri Geller disse que “nem sabia” que Robson Luiz de Almeida França tinha participado do leilão de compra de arroz importado, que não conversa com seu ex-assessor há pelo menos dois meses e que não pode impedir que ele participe de certames.
“[Só] por ele [ter] trabalhado comigo, não posso restringir a atividade dele. Tem que verificar se ele está habilitado ou não. Fora isso, acho que, no meu entendimento, não tem nenhum impedimento”, afirmou Geller.