APARECIDO CARMO
DO REPÓRTERMT
O prefeito de Várzea Grande, Kalil Baracat (MDB), determinou a suspensão do pagamento das férias e das licenças prêmio de todos os médicos que atuam na rede pública de Várzea Grande a partir do dia 1º de novembro. A decisão foi tornada pública apenas três dias depois de ele ser derrotado nas urnas pela candidata de oposição Flávia Moretti (PL).
Em conversa com o RepórterMT, o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado de Mato Grosso (Sindimed), Dr. Adeildo Martins Lucena Filho, explicou que não foi apresentada uma justificativa para a decisão até o momento e que o sindicato busca um canal de interlocução tanto com o prefeito em fim de mandato quanto com a equipe da prefeita eleita.
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Com relação às reclamações sobre a demora no atendimento em unidades da Rede Cegonha, que oferece cuidados médicos para gestantes, Dr. Adeildo disse que a tendência é que, se as coisas forem por esse caminho, novos problemas comecem a surgir em toda a rede pública municipal.
“Isso vai eclodir em vários pontos. A Rede Cegonha é só um deles. Vai afetar UPA, o pronto-socorro, o centro de especializações, as unidades básicas de saúde. Se o prefeito seguir nesse caminho, é o que vai acontecer em vários outros segmentos dentro da atenção à população em Várzea Grande”, afirmou.
O presidente explicou que uma greve depende primeiro de uma conversa tanto com a atual gestão quanto com o gabinete da prefeita eleita. Além disso, é preciso organizar uma assembleia com os médicos e tudo isso precisa seguir prazos previstos na legislação e nas normas internas do sindicato.
Contudo, o clima de insegurança para a atuação dos médicos pode resultar em um movimento de recisão de contratos por parte dos profissionais, deixando o Sistema Único de Saúde (SUS) de Várzea Grande desassistido.
“Os colegas simplesmente podem pedir rescisão do contrato e sair. E deixar (os postos de trabalho), porque assim, sem receber, o prefeito já cria todo um clima desse”, afirmou.
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Para Adeildo, a situação pode ser comparada com a crise na Unimed Cuiabá, quando a gestão da cooperativa médica esperou a eleição interna para revelar aos associados que a empresa tinha um rombo financeiro. A crise resultou na eleição de uma chapa de oposição que ainda tenta reestruturar a cooperativa.
“Tá igual a questão da Unimed Cuiabá, esperando a eleição pra mostrar o tamanho do rombo que estava. E perdeu a eleição, entrou uma nova gestão e a gente se viu no meio de uma situação extremamente ruim”, disse o médico à reportagem.
O médico não quis fazer ilações contra a atual gestão municipal, mas não descartou que a medida tenha a intenção de criar problemas para a próxima administração.
“Eu fico preocupado se criar esse clima já não é para criar dificuldade para a próxima prefeita entrar. Uma situação muito desagradável, muito ruim de falar, porque a gente espera que as pessoas não tomem esse tipo de atitude, mas o caminho é esse”, afirmou o representante da categoria.
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Adeildo classificou a decisão do prefeito Kalil Baracat como intempestiva, que gera surpresa em toda a categoria.
“Uma situação, uma decisão, nada bacana, nada legal. Mostra aí até uma falta de caráter. Não sei, não tem como dizer algo sem conversar ainda com a gestão, mas eu estou surpreso com essa atitude”, concluiu.
Outro lado
A Prefeitura de Várzea Grande enviou a seguinte nota:
A decisão da gestão é entregar a administração municipal para a futura prefeita eleita e sua equipe, dentro dos parâmetros da legalidade da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Eventuais cortes são em cima daqueles que estão amparados em lei, ou seja, se existe a necessidade e as horas extras são comprovadas legalmente, elas serão honradas e pagas assim com os salários e demais vantagens.
Qualquer outro tipo de ilação vem de interpretações errôneas de atos administrativos que visam apenas e tão somente a manutenção dos serviços públicos prestados a cidade e a sua população.