APARECIDO CARMO
DO REPÓRTERMT
Uma discussão por conta de uma cerca provocou a morte do idoso João Pinto, de 87 anos, na região do Contorno Leste, em Cuiabá. Ele foi morto no dia 23 de fevereiro deste ano, dentro da sua propriedade por um policial civil. O caso teve ampla repercussão à época.
Segundo a advogada da família da vítima, Gabriela Zaque, o idoso chegou em sua residência e flagrou dois homens instalando uma cerca. A área em questão havia sido invadida em fevereiro do ano passado e a família vinha buscando uma decisão judicial para reintegração de posse.
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A advogada acredita que pode ter acontecido uma discussão entre eles, mas que, em seguida, o idoso foi em direção à sede da propriedade. Depois de meia hora, três veículos da Delegacia Especializada de Estelionato e Outras Fraudes com seis agentes chegaram ao local.
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Um dos homens que estava erguendo a cerca, identificado como Elmar Soares Inácio, telefonou para o cunhado, o policial civil Jeovanio Vidal Griebel, e disse que havia sido ameaçado de morte pelo idoso.
“Porque o procedimento correto, de acordo com a lei, é você ligar para o 190 quando você é ameaçado e a Polícia Militar vai averiguar a situação. Mas não, ele ligou para o cunhado e dentro de meia hora o cunhado reuniu três carros e seis agentes policiais da Delegacia de Estelionato e se dirigiram até a propriedade do senhor João Pinto”, explica a advogada.
Os seguranças que trabalhavam na propriedade do idoso foram revistados e orientados a não informar da chegada dos veículos descaracterizados. Eles obedeceram, acreditando que se tratava de uma operação policial.
Em seguida, os policiais foram em direção ao galpão onde o idoso estava com o caseiro da propriedade. Os policiais chegaram gritando e já com a arma em punho. O caseiro obedeceu, mas João Pinto não ouviu o que eles tinham dito, pois tinha problema de audição.
A versão dos policiais é que o idoso teria sacado uma arma e os agentes de segurança teriam agido em legítima defesa, o que a advogada da família da vítima nega. João Pinto tinha autorização inclusive para circular nas ruas com armas, mas a perícia constatou que a arma que estava com ele no momento de sua morte sequer chegou a ser engatilhada.
Câmeras de segurança podem ter registrado a ação, mas todos os registros da ocorrência estão em posse da polícia e a família ainda não obteve acesso. O caseiro, que estava no local, alega não ter visto o que aconteceu, porque por medo teria se escondido, numa tentativa de se proteger.
“De acordo com os seguranças, do tempo que os policiais entraram para o tempo em que eles ouviram o tiro não deu nem cinco minutos. Então assim, não teve conversa, não teve nada”, relata a advogada.
Para a advogada, os policiais não podem alegar que agiram em legítima defesa porque, em primeiro lugar, não deveriam nem mesmo estar na propriedade.
“De acordo com a lei, para existir legítima defesa ela precisa ser legítima, a pessoa precisa estar dentro da lei para poder reagir. E eles não estavam, eles entraram dentro de uma propriedade privada sem mandado judicial, sem investigação prévia, fora da competência deles como policiais e a denúncia que eles receberam foi do cunhado do policial que estava lá. E nem foi uma denúncia, ele ligou e falou que tinha sido ameaçado por um senhor de 87 anos”, disse.
Ainda conforme a advogada, após a morte do idoso com um tiro no peito, quatro dos seis policiais foram embora, o que a defesa entende como mais um elemento que aponta a ilegalidade da atuação.
“Se fosse uma coisa correta, um procedimento correto, uma legítima defesa correta, o que um policial civil deveria ter feito? Ficado lá, né? Esperado a polícia chegar, contar o que aconteceu, mas não”, afirmou a advogada.
João Pinto foi morto no dia do aniversário da esposa, com quem estava casado há 64 anos. Segundo a advogada, ela ainda não entendeu o que aconteceu e uma das filhas precisa dormir todos os dias com ela, no lugar que era ocupado pelo marido.
Anderson 26/03/2024
Policia só mala!
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