WILLER ZAGHETTO
O fim do ano se aproxima e a retrospectiva mato grossense é uma epidemia perversa. Dessa vez não se trata da varíola durante a guerra do Paraguai ou a da cólera advinda anos depois, nem mesmo da gripe espanhola. A atual epidemia mato grossense é de violência contra as mulheres, em todas as suas formas. Com poucos avanços na legislação e nas políticas públicas, a quantidade de casos continua alarmante. Para além dos números apresentados nos noticiários, esse tipo de violência, quando não mata, deixa cicatrizes irreparáveis.
Novamente essa temática vem a tona, pois o momento exige. Em 2023, Mato Grosso registrou a maior taxa de feminicídios do país, com 2,5 mortes para cada grupo de 100 mil mulheres, quase o dobro da taxa nacional, segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Tragicamente, as páginas policiais mostram um desenrolar ainda pior durante 2024, de janeiro a julho somávamos 16 feminicídios, com idades entre 18 e 88 anos, sendo 88% deles no ambiente doméstico e 55% cometidos com uso de arma branca.
Ainda nesse período, houve um aumento 113,48% nas denúncias via 180 no estado, enquanto nacionalmente foi de 33,5%. Como se não bastasse, um incremento de 66% no crime de violência psicológica e de 97% no crime de invasão de dispositivo informático alheio.
Esses formas de agressão, impostas dos mais variados modos, deixam marcas profundas não apenas no corpo, mas também na mente das vítimas. Os danos psicológicos causados por essa experiência traumática são complexos e podem perdurar por muitos anos, impactando significativamente a qualidade de vida.
Manipulação, humilhações, ameaças e o controle exercido pelo agressor desumanizam as mulheres e roubam o controle da própria vida. Abala a autoestima das mulheres, fazendo com que elas se sintam culpadas, envergonhadas e incapazes, além do que muitas se isolam socialmente, evitando contato com amigos e familiares por medo ou vergonha. Como resultado temos depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, distúrbios alimentares, isolamento social e outros.
A recuperação das vítimas de violência é complexa e exige um tratamento individualizado e especializado, visando recuperar a autoestima, restabelecer relacionamentos e gerenciar os sintomas.
Willer Zaghetto é médico pela UFMT e atua como perito oficial médico legista.