RENAN MARCEL
DO REPÓRTER MT
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), afirmou na manhã desta quarta-feira (19), durante interrogatório na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, que a demissão do ex-secretário de Políticas Agrícolas do Mapa, Neri Geller (PP), foi uma decisão tomada para garantir transparência nas investigações sobre a tentativa de fraude no leilão de importação de 263 mil toneladas de arroz pelo Brasil, ao custo de R$ 1,3 bilhão. Apesar disso, ele informou que, mesmo diante da polêmica e suspeita de fraudes no certame, o governo mantém firme a ideia de importar arroz.
Fávaro lembrou que a Polícia Federal e a Controladoria-geral da União estão debruçadas sobre o caso. Na Câmara os Deputados também querem investigar o assunto em um Comissão Parlamentar de Inquérito, que já fo apelidada de CPI do Arroz.
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Neri foi exonerado após as irregularidades no certame virem a público. Entre elas está a participação do ex-assessor de Geller como representante de empresas vencedoras do leilão bilionário. Robson Luiz de Almeida França foi assessor de Neri e é sócio do filho do ex-deputado. Diante disso, o governo decidiu pela demissão de Neri para evitar o "conflito de interesses".
"A exoneração de Neri não se trata de um juízo de valores ou de condenação. Não se trata de fazer julgamento, mas é a total liberdade que precisa ser feita para se investigar. Em hipótese alguma, um ato de condenação. A transparência dada para evitar conflito de interesse é parte do papel do poder público. Precisa ser investigado", disse Fávaro aos parlamentares, lembrando a demissão de Henrique Eduardo Ferreira Hargreaves, então ministro de Itamar Franco, que depois foi reconduzido ao cargo após o término das investigações daquela época em caso de suspeita de corrupção.
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Leilão
O ministro também foi questionado sobre a necessidade de realização do leilão para importar arroz, uma vez que as entidades representativas do setor no Brasil apontam que já haveria estoque suficiente no país para abastecimento interno. Fávaro argumentou que a medida foi tomada para evitar especulação de preço. Segundo ele, quando as chuvas atingiram o Rio Grande do Sul e se cogitou a importação de 100 mil toneladas, de pronto já houve especulação.
Ele ainda negou que a importação seja vingança ou uma tentativa do governo federal de desestimular o agro brasileiro. "Por que o arroz subiu 30%, 40%? Por que naquele momento de dificuldade subiu o valor? Se isso não é um ataque especulativo, o que é então? E o que o governo tem que fazer diante de um ataque especulativo? Não se trata de ataque aos produtores. Este é o papel da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento]: ter o estoque para vender em momento de especulação", argumentou.
O ministro disse ainda que, mesmo com toda a polêmica e suspeita de irregularidades, o governo ainda insiste na ideia de importar arroz. "Há melhorias que devem ser feitas e vão ser feitas nos próximos editais", admitiu.
Irregularidades
O leilão suspenso pretendia comprar 263 mil toneladas de arroz no valor de R$ 1,3 bilhão. O governo federal resolveu importar arroz após a crise climática no Rio Grande do Sul, estado que é responsável por 70% da produção nacional do grão, mas que já havia colhido 80% do cereal antes das inundações.
As empresas de Robson Luiz de Almeida França, que foi assessor de Geller na Câmara dos Deputados entre 2019 e 2020, intermediaram a venda de 44% do arroz importado. França é sócio do filho de Geller, Marcelo Piccini Geller, na empresa GF Business, criada em agosto de 2023 e voltada para o agronegócio.
Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e Foco Corretora de Grãos são empresas criadas em maio de 2023 por Robson Luiz. Elas faturam comissões de corretagem em cima dos valores negociados no leilão, além de representarem três das quatro empresas que arremataram o certame.
Depois que o resultado do leilão e suas suspeitas vieram à tona, Geller foi exonerado.