FERNANDA ESCOUTO
DO REPÓRTERMT
O governador Mauro Mendes (União) classificou, nesta quarta-feira (27), como desproporcional a reação da Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso (OAB-MT), após a declaração do procurador-geral de Justiça, Deosdete Cruz Júnior, de que advogados que atendem presos, membros de facção, deveriam ter as conversas gravadas nos presídios e que alguns profissionais atuam como pombos-correios do crime.
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A fala foi feita nessa segunda-feira (25), durante o lançamento do programa Tolerância Zero ao Crime.
Para Mauro, o chefe do Ministério Público Estadual (MPMT) não atacou a advocacia, somente ressaltou que há alguns advogados que fazem papel de “pombo-correio” do crime.
“Eu achei um pouco desproporcional a reação deles. Respeito a opinião, mas advogados cometem crimes, sim, juízes cometem crimes, engenheiros cometem crimes, políticos cometem crimes. A advocacia, como um todo, não foi atacada”, disse Mauro à imprensa.
“O que eu vi claramente o procurador-geral dizer é que alguns advogados trabalham como pombo-correio para levar informações de dentro da cadeia para clientes ou faccionados que eles representam”, completou o governador.
Ainda durante a coletiva, Mauro citou a Operação Fair Play, deflagrada pela Polícia Civil nesta quarta-feira, na qual um advogado foi preso por ser “laranja” de um membro de facção.
“Hoje mesmo, nós temos uma operação que advogado estava sendo usado como laranja. E eu tenho certeza que a OAB defende os bons advogados. Eu tenho certeza que o Conselho de Medicina defende os bons médicos. Agora, os maus médicos precisam ser punidos, os maus engenheiros, maus políticos. Qualquer cidadão que comete um crime, ele é e deve ser tratado como criminoso, portanto eu achei muito desproporcional”, destacou.
“Nós podemos, sim, falar de pessoas e não de uma classe, e eu não vi aqui ele falar que a advocacia, que a classe comete crimes, mas sim que pessoas, e aí nós temos dezenas, talvez centenas de advogados que já foram condenados no país por cometer crimes”, concluiu Mauro.
Entenda o caso
Na segunda-feira (25), o chefe do Ministério Público Estadual (MPMT), Deosdete Cruz Júnior, defendeu que advogados que atendem presos, membros de facção, deveriam ter as conversas gravadas nos presídios.
A declaração fez com que a OAB-MT protocolasse um pedido de Explicações em Juízo (interpelação judicial) contra o procurador-geral.
A presidente da OAB-MT, Gisela Cardoso, ressaltou que não se pode admitir que um direito do cidadão e uma prerrogativa da advocacia seja relativizada. “O sigilo advogado/cliente é absoluto, representa a garantia dos direitos fundamentais, as garantias constitucionais do cidadão. Mais do que discordar, lamento profundamente o comentário do procurador. Não vamos admitir esse tipo de sugestão”, afirmou.
A OAB-MT destaca em sua interpelação que “as afirmações (do PGJ), de ampla repercussão, extrapolam o limite de críticas legítimas e colocam sob suspeita a conduta ética e profissional da classe dos advogados, insinuando que estes estariam atuando em conluio com organizações criminosas”.
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