JOÃO AGUIAR
DO REPÓRTER MT
Você já se perguntou o que acontece com os corpos não identificados pelo Instituto Médico Legal (IML) ou aqueles que a família nunca foi buscar? Em entrevista ao RepórterMT, o diretor metropolitano de Medicina Legal, Eduardo Andraus, explicou que, após se encerrarem os trabalhos investigativos e de perícia, os corpos ficam à ‘espera’ em uma câmara fria. "Quando o estoque fica cheio, eles são descartados", explica.
Durante todo o ano de 2022, 13 cuiabanos foram enterrados sem serem reclamados pela família ou sem a devida identificação. Só neste ano, já foram 4 corpos nessa situação.
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Eduardo Andraus explicou à reportagem que existem dois tipos de corpos no IML: os que são identificados, mas os cadáveres não foram reclamados pela família; e os que não foram identificados e a família também não foi atrás.
Quando se tem a identidade da pessoa, o IML faz de tudo para conseguir localizar os familiares do morto. “Desde uma busca ativa na imprensa, uma busca ativa na delegacia e agora, mais recentemente, usamos as redes sociais”, disse.
Já quando não foi possível fazer a identificação, fica mais difícil, conforme o legista, já que aumenta muito as possibilidades de "abandono".
Os cadáveres não reclamados pelas famílias ficam armazenados nas câmaras frias do instituto. Quando o ‘estoque’ fica cheio, os mais antigos são descartados e entregues ao serviço funerário.
“Cada cadáver examinado no IML tem um arquivo e a gente faz o descarte entregando para a Central Funerária. Posteriormente, eles informam para a gente onde o cadáver foi enterrado. Em Cuiabá, são enterrados em algum cemitério público”, explica.
Junto do corpo, o IML também entrega a ‘documentação’. Nesse caso, são as impressões digitais, quando possíveis, a documentação odontológica, quando o corpo tem os dentes, e todo o material genético. Caso alguém da família apareça, a identidade do morto pode ser estabelecida.
Também há a situação de corpos serem entregues para faculdades de medicina, para ser objeto de estudo. Sobre isso, o médico explicou que apenas cadáveres específicos vão para essa finalidade. “Os cadáveres não reclamados e não identificados, ou seja, os chamados ‘indigentes’, e que não tenham sido vítimas de crime, podem ser disponibilizados para estudos”.
O diretor ainda lamentou que vários corpos são enterrados sem a devida identificação. “A identificação é um dos pilares da humanidade. A gente precisa ter uma identidade, é assim que a gente se distingue das outras pessoas, é assim que a gente forma grupos familiares, é assim que a gente forma uma sociedade como um todo, as famílias. Então a identidade é importantíssima, tanto vivo quanto morto”, afirma.
Para o legista, a identificação é uma forma de conforto para os familiares. “Então quando a gente estabelece a identidade de alguém, mesmo que ela tenha morrido, isso é uma fonte de conforto pra quem está vivo, para os familiares”.