BRUNO VICENTE
The Office está na minha lista de séries que sempre retorno para assistir, mesmo conhecendo todos os episódios das nove temporadas e sabendo o que acontecerá em cada uma das cenas. Volta e meia estou na frente da TV ou do computador dando risadas e sentindo vergonha alheia das situações mais caóticas possíveis. Quem é fã da série, sabe que o escritório da Dunder Mifflin é um terreno fértil para absurdos inimagináveis.
Entre piadas duvidosas, interações desconfortáveis e confusões, percebi que, além proporcionar boas risadas, The Office também mostra alguns pontos muito reais em comunicação. Um deles são as crises de imagem que toda empresa está sujeita a vivenciar em algum momento de sua trajetória. Em sua maioria, são como incêndios: surgem de repente, espalham-se rápido e, se não forem controladas, podem deixar danos irreparáveis.
Para assessoria de imprensa, The Office nos brinda com inúmeros casos em que, no mundo real, uma boa gestão de crise precisaria ser colocada em prática. Imagine, por exemplo, uma empresa ter que lidar repetidamente com episódios de incêndios (literalmente). Na série, o primeiro evento foi provocado acidentalmente. Já o segundo não passou de uma armação feita por um funcionário, que gerou caos e terminou com um dos colegas sofrendo infarto.
Nas duas situações, é possível projetar os impactos imediatos e destrutivos na imagem da Dunder Mifflin, caso os incidentes fossem massificados nas redes sociais e ganhassem manchetes dos veículos de imprensa. É aí que entra o papel fundamental da assessoria de imprensa: conter o fogo. Não no sentido literal, obviamente, mas colocando em prática estratégias para controlar os danos à companhia.
O primeiro passo é garantir o controle da narrativa. Não se pode permitir que informações desencontradas se estabeleçam como a verdade absoluta a qual o público terá acesso. Portanto, é necessário alinhar rapidez e precisão. Uma demora em se posicionar diante de uma crise pode gerar ainda mais especulações. Ao mesmo tempo, respostas precipitadas e mal elaboradas resultam em um efeito contrário ao que se busca, piorando a situação.
Outro ponto importante é o acompanhamento da repercussão. Após um posicionamento inicial, a assessoria de imprensa deve continuar atenta às reações da mídia e redes sociais, corrigindo qualquer desinformação que possa se espalhar. É preciso ainda que a empresa tenha o claro entendimento que o gerenciamento de crise também deve ser trabalhado a longo prazo, com uma boa estratégia comunicação para recuperação de imagem.
The Office proporciona boas risadas, mas também nos dá a oportunidade de refletir sobre o quão complexa é a gestão de crises. Cada momento caótico na série evidencia como contar com uma boa assessoria de imprensa é fundamental para proteger a reputação de qualquer organização. E, no mundo real, onde as crises não seguem o roteiro da comédia, esse trabalho pode ser o ponto que separa danos irreversíveis de uma oportunidade de transformação.
Bruno Vicente é jornalista, atuando em assessoria de imprensa, gestão de crise e linguagem simples