RODRIGO VARGAS
DO DIÁRIO DE CUIABÁ
Fotos amadoras, retiradas de fóruns de discussão da internet. Textos sem revisão, oriundos de fontes como a Wikipédia e blogs variados. Conteúdo confuso, editado de forma desencontrada. Péssima qualidade de impressão e acabamento.
Fosse o resultado de uma pesquisa feita por estudantes do ensino fundamental, o livro "História do Parlamento Cuiabano" seria apenas mais uma insignificante colagem de conteúdo alheio. Só que a referida obra custou R$ 1,3 milhão. E quem pagou foi você.
Lançada em março deste ano pela Câmara Municipal de Cuiabá, a publicação de 142 páginas foi produzida pela Propel Comércio de Materiais para Escritório Ltda., empresa na mira do Ministério Público sob suspeita de integrar um suposto esquema de desvio de verbas públicas por meio de serviços gráficos de fachada.
"São fortes os indícios de desvio de dinheiro público por meio de esquema entre a Câmara Municipal de Cuiabá, através de seu presidente João Emanuel Moreira Lima (PSD), e empresas gráficas, mais especificamente a Propel", aponta o Gaeco, que nesta semana deflagrou a operação Aprendiz.
A reportagem do DIÁRIO leu a íntegra do livro editado pela Propel. Item mais caro do pacote de serviços contratado e pago ao longo deste ano à empresa, o material chama atenção pelo excesso de páginas (44% do total) destinadas unicamente a apresentar nomes e fotos de vereadores e ex-vereadores.
No restante do livro, encontra-se de tudo. Uma matéria retirada da Agência Brasil, tratando da cidade paulista de Mira Estrela, enche duas páginas para expor a "crise do número de vereadores". Outro trecho cita em detalhes a maneira de se construir o tradicional "boi" das apresentações de siriri e cururu. "As ripas de madeira devem ser finas", diz o livro.
O capítulo sobre a cavalhada em Poconé, também retirado da internet, enche seis páginas. Em um capítulo sobre "Personagens Memoráveis", um texto sobre Maria Taquara relata suas aparições "tanto faladas quanto escritas" em um Centro Espírita da Capital.
O texto, publicado originalmente em um site intitulado "Diretório de Artigos Gratuitos", conta como a personagem, que marcou época na Cuiabá das décadas de 1930 e 1940, ressurgiu para dizer que está "bem" e "trabalhando".
"Vocês também viram o meu cabelo. Sou preta, feia e beiçuda (...) Virei entidade e estou aqui ajudando os irmãos espíritas. Não sou bonita por fora, mas a beleza é por dentro", teria dito, segundo o livro encomendado pela Câmara Municipal.
Descrito na publicação como "jovem e dinâmico", o vereador João Emanuel disse, em depoimento ao Gaeco, que sua intenção ao encomendar o livro era "levar ao conhecimento da população as atribuições do Parlamento".
Questionado, disse que "não pagou e nem lhe foi solicitada nenhuma propina ou comissão" pelo contrato. "O declarante confirma que todo o material que consta das notas, na quantidade que consta das notas, foi produzido e entregue", disse, em um trecho do depoimento.
Segundo o presidente afastado, parte dos livros foi "distribuída internamente entre os gabinetes" e o restante foi entregue em "escolas, mutirões e eventos" e a servidores e visitantes da Câmara. "O declarante se compromete a trazer novas informações e documentos comprovando a efetiva entrega da quantidade de livros adquirida".
Debora Parker 01/12/2013
Fala serio, pensar que esse rapaz encheu o saco do Prefeito pedindo mais verba pra depois dizer em gravação que não sabe o que fazer com o dinheiro da Câmara. Aparece agora esse livreco com esse custo? logico que é fraude, só não vê quem não quer
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