Delator diz que foi extorquido até por WatsApp; dinheiro iria quitar dívidas da eleição de Silval

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Juíza Selma Rosane afirmou que delação foi acompanhada de provas robustas

KEKA WERNECK
DA REDAÇÃO

O empresário João Batista Rosa, delator na Operação Sodoma, da Delegacia Fazendária, disse em depoimento à Polícia que, mediante extorsão, pagou propina ao grupo do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e que o dinheiro seria para quitar dívidas de campanha eleitoral.

Esta é uma das informações que subsidiaram a decisão da juíza Selma Rosane, da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, que pediu a prisão preventiva de Silval Barbosa e de dois ex-secretários de Estado dele, Pedro Nadaf (Indústria, Comércio, Minas e Energia e que também atuou na Casa Civil e Fazenda) e Marcel de Cursi (Fazenda).

Conforme o empresário, inclusive pelo WhatsApp, estava sendo obrigado, mediante forte pressão de Nadaf e Cursi, a pagar R$ 2,6 milhões, que seriam para sanar dívidas pendentes da eleição de 2010, em que Silval elegeu-se governador do Estado.

Reprodução da decisão judicial

Trecho da decisão. Com repasses mensais, valor chegou a R$ 2,6 milhões.

A juíza, ao determinar a prisão dos três, afirmou que o pedido foi acompanhado por documentação robusta, como extratos bancários, comprovando os pagamentos das propinas, cópias de conversas entabuladas e depoimentos consistentes.

As investigações do MPE partiram de Silval, Nadaf e Marcel e chegaram a 56 integrantes do esquema, o que deve resultar em uma responsabilização de todos, ou parte deles por formação de quadrilha.

O MPE encontrou provas de que o grupo de Silval concedeu bilionários incentivos fiscais a empresários que queriam entrar ou continuar sendo beneficiados pelo do Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso (Prodeic), criado pela Lei nº 7.958 em 2003, com o objetivo de expandir, modernizar e diversificar as atividades econômicas de Mato Grosso, com ênfase na geração de emprego e renda e na redução das desigualdades sociais e regionais.

O empresário confirmou que por 10 anos recebeu os incentivos fiscais do Prodeic, mas mediante propina e por fim disse ter sido chamado para “contribuir” com R$ 2 milhões para pagar dívidas de campanha do peemedebista.

Mesmo alegando não ter dinheiro, disse ter se sentido obrigado a fazer repasses mensais, por cheque, em dinheiro ou via depósitos bancários, por ter “caído em uma armadilha”. Era isso ou seria cortado do programa, conforme nota emitida pela assessoria jurídica do empresário.

“Assim, a organização criminosa teria mantido o empresário sob seu comando, de modo a obrigá-lo a honrar os pagamentos mensais de propina, conforme combinaram, sob pena de perder o beneficio PRODEIC”, concluiu a juíza no despecho.

Os pagamento foram todos feitos em favor da empresa NBC - ASSESSORIA, CONSULTORIA E PLANEJAMENTO LTDA., de propriedade de Pedro Nadaf.

À imprensa, a irmã de Pedro Nadaf, Yasmim Nadaf, conduzida coercitivamente à Defaz para prestar depoimento sobre o esquema, questionou quem seria esse desconhecido delator diante de uma família centenária e tradicional.

Ela se referia ao empresário Rosa, que é do ramo de peças para tratores e caminhões, com lojas em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia, da Tractor Parts.

Nadaf e Cursi estão presos deste terça-feira (15), quando a Defaz desencadeou a Operação Sodoma e Silval Barbosa, após 48 horas sendo tido como foragido, se entregou na tarde desta quinta-feira (17), e está preso no Corpo de Bombeiros do Porto.